Era um Flamengo x Botafogo pelo campeonato carioca de 1958. Eu tinha 10 anos e fui com meu pai, flamengo como eu. Saímos cedo, mas o táxi engarrafou perto do Maracanã, o jeito foi apear e seguir as bandeiras. Lá dentro, só havia lugar atrás de um dos gols -justo o gol para que o Botafogo atacaria no primeiro tempo.
O ataque do Botafogo naquela tarde era Garrincha, Didi, Paulinho, Quarentinha e Zagallo -cheio de campeões mundiais. A todo instante, Garrincha avançava pela direita, driblava nosso lateral Jordan (pronuncia-se Jordã) e chegava à linha de fundo, cruzando para o arco do Flamengo, defendido por Fernando -e por mim, sentado lá em cima, atrás do gol.
De Garrincha saíram os gols de Quarentinha, dois, e Paulinho, um atrás do outro. No segundo tempo, os times trocaram de lado e o Flamengo passou a atacar na minha direção. Pude então vibrar com o massacre rubro-negro e com os gols de Henrique e Dida. Mas ficou nisso: Botafogo 3 x 2.
Em 1995, 37 anos depois, publiquei um livro, "Estrela Solitária" -uma biografia de Garrincha. Muitas vezes, durante o trabalho, aquelas arrancadas de Garrincha contra meu coração me vieram à cabeça. E só então descobri que o garoto, mesmo tendo saído derrotado do Maracanã, não odiou seu algoz nem por um minuto. Era impossível odiar Garrincha. Na verdade, era impossível não amá-lo.
sábado, 29 de novembro de 2008
Para ler de joelhos
Sabe aquelas regras todas sobre técnicas de redação, patati, patatá?
Coloque todas no liquidificador, bata em velocidade máxima com pouco líquido (ao contrário do que dizem, não precisa ser necessariamente alcóolico) e sorva.
Em seguida, tome (não sorva) uma folha de papel em branco e um lápis e escreva rápido.
Se não for algo próximo do estilo que virá abaixo, desista.
Seguramente, faltou emoção, faltou talento, faltou a genialidade de um redator como o Ruy Castro, autor deste texto que está na Folha de hoje, página 2, chamado Sentado atrás do gol.
Ajoelhe-se, e bom proveito:
Entre as tantas efemérides de 2008, deixei escapar uma, apenas pessoal -quando me dei conta, já era. Foi no dia 9 último: os 50 anos de minha primeira ida ao Maracanã. Eu sei, todo mundo que gosta de futebol foi ao estádio uma primeira vez, e nem por isso a façanha merece ir para os calendários esportivos. Mas merece ir para o meu calendário afetivo -nem que seja pelo que se passou muitos anos depois.
sexta-feira, 28 de novembro de 2008
Vá ver Vicky
Quem ainda não foi, que vá. Quem já foi, que vá de novo assistir o mais recente Woody Allen, Vicky Cristina Barcelona. Se não fosse por mais nada, para ver como que um roteiro bem elaborado, tanto quanto os anteriores Match Point e Sonho de Cassandra, é tudo num filme. Efeitos, lentes, enquadramentos revolucionários? Qual nada... Como de hábito, o que conta ali é a história, o envolvimento quase hipnotizante da platéia com a trama. A mulher no cinema? A subserviência aos encantos de um galanteador? Não. Apenas entretenimento e diversão, em que os espectadores chegam a torcer - naquela antiga acepção da palavra - pelos malabarismos verbais dos personagens. E quem ganha é a percepção de que mais um filme de um dos diretores mais verborrágicos do cinema nos impõe de novo que o que conta mesmo é a palavra. Dita, escrita, falada.
quarta-feira, 26 de novembro de 2008
Entre a alma e o hipotálamo
Quando você pensa que já viveu todas as paragens em que se tem a sensação, entre a dor e a melancolia, situada precisamente no espaço entre a alma e o hipotálamo, eis que surge mais uma. Desta vez, o que nos espera à frente é a qualificação do mestrado, que apresento no próximo 5.
Como diria alguém mais capaz do que eu, não há de ser nada, mesmo significando quase que tudo.
terça-feira, 25 de novembro de 2008
O cisne redivivo
Um destes repórteres esportivos de rádio, na CBN, naquele afã típico de lustrar a sua participação em um jogo emocionante de um time que voltava da bancarrota, saiu-se com uma referência a um tal "cisne que renasce das cinzas". O outro repórter, célere, pergunta se não seria uma fênix. E o primeiro: "não conheço por este nome".
Vestiburrar!
Ontem, numa redação da UCG: "educação sexual depende da fachetária de idade"; "nem todos têm total liberdade de explorar o lado sexual dos pais ou parentes".
segunda-feira, 24 de novembro de 2008
Veja, enquanto é tempo.
O que é que há com a Veja? Fiquemos todos atentos, pois algo de estranho está acontecendo com a maior revista semanal do Brasil. Não bastassem as colunas do Mainardi e, eventualmente, a do Reinaldo Azevedo, que desapareceriam se fosse abolida a primeira pessoa do singular, eis que nestas duas últimas semanas somos obrigados a receber duas capas absolutamente "Contigo". Primeiro, o drama de algum ator da Globo (só pra fazer pirraça na Época?); agora uma verdadeira aula de como não fazer jornalismo: ouvem-se advogados, vizinhos de cela e outros fofoqueiros em oferta e publica-se algo sobre tantos dias de vida na cadeia dos suspeitos de ter jogado a menina pela janela em São Paulo. Algo dos protagonistas? Nem uma palavra!
Não seria o caso de jogar algumas revistas pela janela?
Não seria o caso de jogar algumas revistas pela janela?
sexta-feira, 21 de novembro de 2008
10 ou 100 bobos?
Dúvida, eu com elas.
Só aqui na nossa propaganda, e só apenas nestes últimos vinte anos,
terei visto 10 ou 100 exemplares do talento criativo aplicado em
feirões de qualquer espécie, vendendo de móveis a imóveis,
sempre com um bobo vestido de feirante, não sei quantos
outros bobos passando e "aproveitando", e mais uns outros
tantos bobos dirigindo, maquiando, captando, editando...
Ainda bem que sempre vai ter bobo no mundo pra aprovar umas
bobagens destas, não?
Só aqui na nossa propaganda, e só apenas nestes últimos vinte anos,
terei visto 10 ou 100 exemplares do talento criativo aplicado em
feirões de qualquer espécie, vendendo de móveis a imóveis,
sempre com um bobo vestido de feirante, não sei quantos
outros bobos passando e "aproveitando", e mais uns outros
tantos bobos dirigindo, maquiando, captando, editando...
Ainda bem que sempre vai ter bobo no mundo pra aprovar umas
bobagens destas, não?
quinta-feira, 20 de novembro de 2008
magister dixit
Ora, ora, vejam vocês o que é a ingratidão humana.
Li, há alguns meses, um dos mais recentes livros do Iuri Rincón, que pensava fosse
meu amigo, mesmo sem conhecê-lo.
O cartapácio trata de uma suposta história da propaganda em Goiás.
Tantas páginas, tantas, tantas e nenhuma menção a este pobre escriba.
Como bom mineiro, procurei saber comigo mesmo os motivos do desprezo: o fato de
ser mineiro, não goiano; um provável "erro do juiz", hoje desculpa para tanta coisa;
um possível erro de revisão que seria corrigido com uma nova edição e um pedido de
desculpas... Qual nada! Nenhuma satisfação.
Em vingança, que em Minas é um prato que se serve quente, faço questão de não
relatar aqui nem um centavo da minha larga contribuição à propaganda goiana.
Ele que trate de investigar para saber do tanto que lhe emprestei prestígio. Dixi.
Li, há alguns meses, um dos mais recentes livros do Iuri Rincón, que pensava fosse
meu amigo, mesmo sem conhecê-lo.
O cartapácio trata de uma suposta história da propaganda em Goiás.
Tantas páginas, tantas, tantas e nenhuma menção a este pobre escriba.
Como bom mineiro, procurei saber comigo mesmo os motivos do desprezo: o fato de
ser mineiro, não goiano; um provável "erro do juiz", hoje desculpa para tanta coisa;
um possível erro de revisão que seria corrigido com uma nova edição e um pedido de
desculpas... Qual nada! Nenhuma satisfação.
Em vingança, que em Minas é um prato que se serve quente, faço questão de não
relatar aqui nem um centavo da minha larga contribuição à propaganda goiana.
Ele que trate de investigar para saber do tanto que lhe emprestei prestígio. Dixi.
No princípio, era o verbo; agora é a verba.
Críticas, só as cítricas.
A intenção é muito mais de colocar a gente - eu mesmo - pra pensar no que pode ser feito do que não vem sendo feito há tanto tempo pelo mercado da publicidade e da propaganda daqui, do que nos rodeia, do que rodeia o que nos rodeia. Isso.
Incomoda a mim e - espero - a muitos a mesmice e o ensimesmamento de tantos e quantos bons profissionais estão por aqui, que já viveram bons e inolvidáveis momentos de premiações, quase-premiações, aqui, ali fora, mais do que ali fora. Hoje o que temos? Alguns destes gênios, de geniais passando a geniosos - acho que estou entre estes - e todos cuidando da vida, à espera do milagre da renovação que ainda não chegou. Só aceito como renovação o momento em que os novos profissionais que vão aparecendo e se posicionando alcançarem o mesmo que eu e alguns outros geniosos alcançamos em outras - nem tão priscas - eras. Fica a proposta. Fica o desafio.
O que fazer? Aqui está o espaço, pra falar bem e pra falar mal dos outros. E da gente mesmo.
A intenção é muito mais de colocar a gente - eu mesmo - pra pensar no que pode ser feito do que não vem sendo feito há tanto tempo pelo mercado da publicidade e da propaganda daqui, do que nos rodeia, do que rodeia o que nos rodeia. Isso.
Incomoda a mim e - espero - a muitos a mesmice e o ensimesmamento de tantos e quantos bons profissionais estão por aqui, que já viveram bons e inolvidáveis momentos de premiações, quase-premiações, aqui, ali fora, mais do que ali fora. Hoje o que temos? Alguns destes gênios, de geniais passando a geniosos - acho que estou entre estes - e todos cuidando da vida, à espera do milagre da renovação que ainda não chegou. Só aceito como renovação o momento em que os novos profissionais que vão aparecendo e se posicionando alcançarem o mesmo que eu e alguns outros geniosos alcançamos em outras - nem tão priscas - eras. Fica a proposta. Fica o desafio.
O que fazer? Aqui está o espaço, pra falar bem e pra falar mal dos outros. E da gente mesmo.
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