segunda-feira, 22 de junho de 2009

Jornalista: com futuro ou sem.

Nestes tempos em que tudo faz crer que o Brasil finalmente chegou em 1968, e enfim o ano vai terminar, eis aqui um belo artigo escrito pelo Gilberto Dimesntein, publicado na Folha de domingo, 21 de junho, quando aliás comemorei meus 26 anos de diploma de graduação em jornalismo pela Universidade Católica de Minas Gerais. Ele trata da questão sem as paixões de praxe, com um equilíbrio incomum para os dias de hoje. Acho que deve ser punido por isso, mas vamos lá ao texto Jornalista sem diploma não tem futuro:

Professor de Harvard, o psicólogo Howard Gardner ganhou notoriedade mundial ao disseminar o conceito de inteligências múltiplas -em poucas palavras, a inteligência se manifesta das mais diferentes formas, inclusive na habilidade como se move o corpo num campo de futebol.Veja a renda mendal de jogadores que desprezaram a escola como Adriano (R$ 300 mil) ou Ronaldo (R$ 1,1 milhão) -agora, compare com salário de um professor doutor da USP, com dedicação integral (R$ 6,7 mil). Imagine quantos times de professores seriam necessários para ganhar o salário dos dois jogadores. O psicólogo afirma que uma das habilidades fundamentais no mercado de trabalho é a "mente sintetizadora". Por isso, apesar da decisão do Supremo Tribunal Federal, na semana passada, de permitir que até um jovem com ensino médio (ou menos) trabalhe numa Redação, o jornalista não terá futuro sem, no mínimo, um diploma. Provavelmente o menos importante desses diplomas seja o de jornalismo.
Mente sintetizadora é a habilidade de extrair o que é essencial do amontoado cada vez maior de informações despejada diariamente pelos mais diferentes meios. Para Gardner, o profissional do futuro deverá ter essa "mente" ou, pelo menos, ser assessorado por alguém que a tenha, do contrário tende a ficar paralisado entre as múltiplas alternativas. Para nenhuma atividade profissional, o desafio de lidar com o excesso de informação (e, portanto, exercer a capacidade de síntese) é tão pesado como para os jornalistas. Afinal, a imprensa é e será o grande filtro, seja no papel, no rádio, nas telas da televisão ou do computador. O jornal "The New York Times" inventou, no mês passado, um novo cargo: editora de "mídia social". Sua missão: navegar pelo labirinto das redes de internet como Orkut, Facebook, Twitter, além da floresta de blogs, e descobrir informações e tendências. Quem está acompanhando as manifestações do Irã, vê o papel dessas redes diante da proibição de divulgação de notícias.
Não se desenvolve a capacidade de síntese sem um longo treino de associação de dados, ideias e conceitos, o que exige uma vivência de ensino superior, com cargas de leitura e dissertações aprofundadas. Desenvolve-se, aí, a competência para identificar, relacionar e selecionar, a partir de problemas complexos. Daí que o aluno que passou a vida decorando para fazer provas tem até a chance de entrar numa boa faculdade, mas corre o risco de quebrar a cara no mercado de trabalho.
O fim da obrigatoriedade do diploma responde a essa demanda dos meios de comunicação: a abertura para profissionais ou acadêmicos das mais diversas áreas, especializados em determinados assuntos, capazes de acompanhar melhor a velocidade do conhecimento. É bem diferente de certos tempos em que se aceitavam, sem maiores problemas, repórteres talentosos para descobrir o futuro, mas incapazes de escrever; havia, na Redação, profissionais pagos para escrever a matéria, chamados "copidesque". O jornalista de qualidade será obrigado a se reciclar permanentemente, mantendo-se ligado a algum nível de vida acadêmica. É apenas consequência óbvia da era da aprendizagem permanente. Ou seja, um diploma é pouco. O presidente do STF, Gilmar Mendes, ao justificar o fim do diploma, comparou o jornalista ao cozinheiro. Também não acredito que um cozinheiro, no futuro, prospere sem diploma de ensino superior.
Ao contrário do que se pensa, o fim do diploma deve ajudar os cursos de jornalismo. Basta ler um texto universitário para ver a inviabilidade da linguagem acadêmica na mídia. Os profissionais que desejarem prosperar numa Redação terão de reciclar sua linguagem e lidar com as técnicas de comunicação; o acadêmico tem a reverência do processo; o comunicador, a do instante. Minha aposta é que serão criados cursos de curta duração, no estilo sequencial, com foco no mercado de trabalho. Com a decisão do STF, tirando os corporativistas, todos saíram ganhando a começar do leitor.

terça-feira, 16 de junho de 2009

O mar, misterioso mar

Depois de minha mesoconversão aos textos mesocientíficos, proporcionada pelo desenvolvimento da dissertação de mestrado, tive a feliz oportunidade de ler este outro que mando abaixo, do professor de teoria literária da Unesp de Campinas Alcir Pécora, publicado na Folha do dia 7 de junho passado. Ele, sim, um teórico como tantos colegas professores da graduação e do mestrado, a quem tenho tanto a agradecer pelas novas descobertas. Quanto ao texto que segue, leiam e vejam que análise é feita e tanto bem feita sobre a nossa dependência da linguagem como forma de nos manifestarmos e de percebermos manifestações, quanto mais em momentos de intensa dilaceração emocional. Chama-se Mar adentro.

Há um silêncio insistente pegado ao tropel das notícias que acompanham o voo 447 da Air France, desaparecido em meio ao Atlântico, na noite do último domingo. Talvez porque, a rigor, não possam ser inteiramente notícias, relatos de acontecimentos que se dão a conhecer. Pois há um vazio instalado no lugar da catástrofe. Um vazio residual, um silêncio ineludível entre as vozes e imagens. Vazio de causas do acidente, vazio de comunicação do avião sinistrado, vazio de imagens do desastre; vazio de comunicados terroristas; vazio, por ora, até de paranoia. A falta de terreno para as notícias salta ainda mais à vista nas galerias de fotos que os jornais tentam montar, com obrigatória criatividade, para dar uma dimensão mais humana, mais factual e discursiva para o desastre. O que mostram são fotografias de aviões semelhantes ao usado no voo 447 (que mais acentuam a consciência de não ser ele o verdadeiro do que a semelhança com ele), de radares modernos em navios, ou de militares com binóculos a perscrutar a presumível cena da queda, sempre com a mesma insuficiência de quem nos mostrasse os olhos em lugar da coisa supostamente avistada. No lugar do acidente, há a proliferação de imagens dos familiares a descer dos ônibus ou a cruzar escoltados os aeroportos do Rio e de Paris, com os olhos cobertos de dor e perplexidade. Mas a própria abundância dessas imagens vicárias marca sobretudo a ansiedade pelas notícias que não vêm, pela insistência da tragédia em não se consumar, de não apresentar justificativas para a sua ocorrência. Não há muitos objetos capazes de representar vicariamente a extensão cabal do desastre. Há o céu e há, sobretudo, o mar. Mas o mar confunde, indistingue, abstratiza, mais do que evidencia a tragédia. Assinalam um traçado no mar, mas ele não parece suficiente para expressar o trágico. Mencionam uma cadeira, objetos coloridos, uma parte metálica de alguns metros, mas metros não contam para o mar. Compreende-se o apego aos objetos partidos para valer como demonstração patética do desastre invisível. Não era por outro motivo que Aristóteles, na "Retórica", notava a eficácia de exibir camisas ou outros objetos com o sangue das vítimas para tornar presentes aos jurados a violência dos criminosos diante da ausência dos corpos mortos no tribunal. Mas não há sangue, não há culpados, não há traços humanos especialmente comoventes. De tudo o que se vê, evidencia-se tão somente o alto-mar. Sua magnificência está mais próxima da metáfora metafísica, seja da morte, seja da fortuna, que dos afetos trágicos. Mais do que piedade e compaixão, o mar exibe a sua própria grandeza. Por isso, no mar, em busca dos sinais dos mortos do voo 447, mais se encontram os sinais de nossa própria insuficiência. No mar, como no espaço abissal, é difícil sustentar um drama subjetivo individualizado: nele se enxerga melhor a nossa condição comum do que nossa vida particular. Como suplicar ao seu sem fundo que se apiede, como o vingado coração de Aquiles [na "Ilíada", de Homero] diante das súplicas do pai para restituir o corpo do filho amado? Que esperança de enternecê-lo e de prantear os corpos dos mortos, para que os façamos parte de nossas cerimônias e os aceitemos então como parte de nossas memórias e, portanto, como experiências que se pode viver, mesmo insuperadas? Desse modo, não há tragédia, pois não há relato de ação; não há catarse possível, pois não há erro, nem há vítimas que se dão a ver, assim como nos faltam os despojos sujos, tocantes, de vida interrompida. Tampouco há sublime pós-moderno, pois não há absolutamente o horror do inenarrável: há apenas a narração exígua do que se mostra imenso à vista. Os jornalistas, mais ou menos obrigados a recompor uma história dramática, senão uma grande tragédia - não por má intenção ou indiferença, mesmo ao contrário, para dar uma dimensão sensível à dor -, estão cada vez mais na pele do pintor inepto de Horácio, que apenas sabendo pintar árvores, não sabia como fazer para plantá-las na paisagem marítima. Mas há apenas a dor dos que a sentem, mais nada.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Titia Susan Boyle apresenta o titio Pott

Se você é um dos milhões de sobrinhos daquela bretã que nunca beijou ninguém e está presentemente internada em uma clínica de repouso, prepare-se. Sem saber, você já era sobrinho de um outro tio, chamado Paul Pott, que cumpriu o mesmo roteiro da titia Boyle, inclusive com os excessos emotivos dos jurados do programa de calouros. Não se sabe muito bem por que o titio não obteve a mesma repercussão da titia, mas sabe-se o quanto o dono do programa sabe fazer grana. O que também não é nenhum pecado, não é, tio?

Nada mais do que a verdade?

Com a autoridade de quem, mesmo tendo estudado para ser, acabou escapando da carreira de jornalista, vai aqui uma mísera recomendação técnica aos meus quase colegas de trabalho: rapazes, ninguém aguenta mais esta história de que a jornalismo só é possível associar verdades absolutas. Ainda que fosse, ninguém aguentaria a atitude arrogante de quem imagina que seja daquele jeito. E ai de quem se ponha a contestar ou cobrar explicações: estes serão eternamente os conspiradores contra a tal liberdade de imprensa. Parece pouco? Pois adicionem a tudo isto o tempero da queda de circulação de jornais, da migração das audiências dos meios eletrônicos para os digitais, da intensa possibilidade de interação e exposição de críticas e ressalvas dos leitores que agora, como nunca, têm o poder de não deixar mais pedra sobre pedra, mentira sobre mentira. Rapazes, a coisa tá preta.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Quem será que escreveu esta bobagem?

Uma escola preparatória de Goiânia, chamada Axioma Jurídico, espalhou outdoors pela cidade parafraseando aquele ditado manjadíssimo, o "diga-me com quem andas...". Nada mais criativo, como se vê, ainda mais partindo de uma escola. Pois lá estava: "diga-me com quem estuda e lhe direi quem será". Assim mesmo, abolindo a segunda pessoa, que ainda dá um certo tom de nobreza à bobagem, e mandando às favas qualquer conteúdo que pudesse querer transmitir. A poropósito, antes de dizer quem será quem, a escolinha poderia esclarecer quem será que foi o autor desta barbaridade.

Quem ajuda quem ajuda?

Um abraço, um beijo, um carinho de repente fazem falta? Ou não significam nada? Dias passados, esteve em voga uma discussão sobre a falta do mesmo empenho coletivo dos brasileiros quando da tragédia catarina de meses atrás para a tragédia nordestina de agora.
Não sei a que conclusão se chegou, mas será que será?
Desde o domingo de há pouco, quando do desaparecimento do avião francês, outra vez sobreveio a emoção de acompanhar o empenho das pessoas em socorrer os ficantes em seu drama inominável, seja com uma palavra, um amparo, um aperto de mão, um abraço de um desconhecido. Mas também houve quem achou de questionar por que não revelar o mesmo drama dos tantos "airbus" que matam tantos outros no trânsito ou nas noites das grandes cidades. Estão todos certos? Estão. Tanto quanto devem estar precisando de um abraço, um beijo, um carinho de repente.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Viliouvi: o avião e o cachorro

Acato sugestão minha mesmo, de criar uma série apaixonante em que transcrevo algo que tenha lido, visto ou ouvido alhures. Outro dia desses, quem ouvi foi o Cony dizendo que os aviões do futuro terão na cabine apenas um piloto e um cachorro. Um cachorro? Sim, pois a tecnologia será tão avançada que se o piloto puser a mão em alguma coisa, o cachorro ataca. Na hora.

Segundo Barrichello II, o segundo

Em primeiro lugar, com um título destes, nem é preciso texto. Em segundo lugar, Barrichello. (Para o caso de meus milhões de leitores insistirem, deixo em aberto a postagem de piadas sobre o Rubinho, exceto aquela em que se pergunta pra mãe dele de que filhos ela mais gosta e ela responde: primeiro o mais velho, em segundo, o Rubinho. Ou aquela outra que diz que será o autor mais citado em trabalhos científicos. Mais ou menos assim: segundo Barrichello, patati, patatá...) Postem, pois.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Me chamam Mestre

Vai longe o 5 de dezembro, quando este pobre escrevinhador dizia de suas angústias frente à qualificaçao do mestrado que se aproximava. Propositalmente, deixei de lado as de agora, quando se aproximou a definitiva defesa. Nao que angústias nao houvesse, mas elas se encarregaram por si só de me incomodar tanto, mas tanto, que preferi nao decliná-las neste espaço. Tudo isso pra dizer que, desde o dia 22 de maio deste ano da graça de 2009, nao sem passar por uma intensa emoçao provocada pela presença do meu e das minhas, posso ser tratado pelo título de Mestre. Este mesmo, aquele que, segundo Rosa, Joao Guimaraes, nao é o que bem ensina, mas o que de repente aprende.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Escolha o seu câncer

Entre o câncer da ministra Dilma e o câncer do vice-presidente José Alencar, qual dos dois lhe parece mais digno de atenção? Fica a impressão de que o do vice emociona mais, seja pela sua imensa demonstração de força de vontade, pela sua denodada abnegação, pelo permanente sorriso que não combina nada com o drama em que está enfiado. Quanto à ministra, pretensa candidata a presidente, a história é bem outra: está usando a doença para promover sua campanha à vista, demonstra fraqueza logo frente a uma quimiozinha qualquer... Inevitável lembrar de uma frase do Nelson Rodrigues, atribuída a Otto Lara Resende, mineiro como são, aliás, a ministra, o vice e este escriba, que diz que os mineiros (por extensão, os brasileiros) só são solidários no câncer. Pelo jeito, agora nem isso.