sábado, 22 de agosto de 2009

Não, não, não digo não.

Depois não digam que este blog não avisou. São incontáveis os indignados e indignadas com a renúncia à renúncia do Aloísio Mercadante, senador por São Paulo, mas ao mesmo tempo são muitos, mas muitos os que dizem não acreditar em mais nada na política. Exceto, vejam bem, exceto em quem? José Alencar, que vem a ser o vice-presidente, salvo pela sua luta terrível contra o câncer. Não há coração de brasileiro médio que não amoleça frente a um câncer. Vejam uma nota passada: "Escolha o seu câncer". Com ela, ao menos o bigodudo Mercadante tem a chance de anunciar que descobriu que também está com um cancerzinho incipiente. Ou então será o caso de esperar pelo seu próprio derretimento público, torcendo para que o Lula não lhe peça coisas mais íntimas para as quais ele também não conseguirá dizer não.
A propósito desta patacada do senador, deem uma lida no que um articulista da Folha publicou lá hoje, sob o título Mais irrevogável que um beijo no asfalto. Marco Chiaretti desmonta uma meio verdade que vem pairando sobre todos nós desde a vitória de Obama, creditada quase que totalmente ao bom uso estratégico das novas mídias. Leiam, reflitam, digam não:

O senador Aloizio Mercadante (PT-SP) é aquele homem público que parece sempre querer destacar em suas atitudes e falas uma aura de (quase) juventude e modernidade. É o tipo do político que prestou muita atenção no sucesso da campanha de Barack Obama na eleição norte-americana do ano passado, e no uso que os encarregados da comunicação obamista fizeram das chamadas redes sociais.(No caso de Obama, aliás, caberia prestar atenção nos números das pesquisas pré-eleitorais: é fato que os democratas deram um banho nos republicanos no uso da web, principalmente nos quesitos arrecadação e mobilização em campanha, mas também é fato que ele foi eleito por causa da crise, principalmente. A rede ajudou, mas uma rede sozinha faz pouco -a Presidência dos EUA usa as ferramentas de web 2.0 para divulgar as teses de governo, mas agora o sucesso não é tão notável, se é que existe.)Mercadante tem site, página no Facebook, no Twitter e no Orkut, álbum de fotos no Flickr e de vídeos no YouTube e deve ter mais páginas em outros portais e redes sociais que não conheço. Ele "está em rede". Há nisso uma busca constante pela aproximação com o público, o jovem em particular. Um político moderno e "progressista" falando aos jovens.O problema é que essas ferramentas "em rede" são de uma crueldade abissal, definitiva. Uma coisa é "falar", outra muito diferente é "escrever". E o Twitter é uma mídia onde se costuma escrever com a "leviandade", digamos, do discurso oral. É assim que funciona. "Verba volant", diziam os antigos, mas "scripta manent". No Twitter elas voam como passarinho e vão pousar em tudo quanto é galho. E lá ficam. Quantas vezes Mercadante disse que renunciaria ao cargo de líder do seu partido e depois desdisse o que havia dito? Pelo que leio, três vezes. E daí? Daí, nada, que na cena política essa questão de pedirem para esquecer (e esquecerem) é bastante comum. Só que agora ficou registrado na pedra: "Eu subo hoje à tribuna para apresentar minha renúncia da liderança do PT em caráter irrevogável", escreveu o senador. Irrevogável. E transmissível, como um vírus, de tela a tela.

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