sábado, 28 de fevereiro de 2009

Ditinha brandinha

Como disse um amigo outra hora, e me esqueci de dizer ali embaixo, a sorte é que estes nossos jornalistas, cientistas políticos, historiadores (até historiadores...) não foram ainda convocados para analisar o holocausto. Iam acabar descobrindo que foi só outra brandurazinha (tem dura, mas é branda).

Nossa dita é branda, e a sua?

Brincando de ser sério, cá está o país de novo fazendo troça de sua História. Outro dia desses, num editorial, a Folha, em mais uma das milionésimas reprimendas da mídia pátria a Chavéz e suas loucuras venezuelanas (como se por aqui não as tivéssemos também), saiu-se com um neologismo pra lá de esquisito: ditabranda. Tal estrupício significa que um regime de exceção que tenha provocado menos vítimas em relação a outro não pode ser considerado como uma ditadura, mas sim algo mais brando. Parece loucura, e é mesmo. Pior, se ainda é possível imaginar, foi perceber que até mesmo um absurdo deste quilate encontra seus defensores, deixando de lado o simples fato de que está-se jogando a nossa História no lixo, em nome de uma veleidade insignificante de associar pensamento tal e qual à direita ou à esquerda. Depois, são os mesmos que vão dizer que o Brasil não tem memória, que bonitos são os outros que preservam seu passado e tal e cousa e lousa. Caipirice pura.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

E vamos aos pontos

Já que falamos em pontos na postagem do Otto, vai aqui um desafio pouco convidativo, mas que vai denotar o interesse de uns e outros sobre esta terrível arte da redação. Seguinte: trata-se de um poema que fala de três belas irmãs; dependendo da pontuação escolhida, o poeta declara seu amor por Soledade, por Lia ou por Iria, ou ainda confessa estar indeciso entre as três.
Fácil, fácil: pontue o texto original de 4 formas diferentes, em cada uma delas demonstrando uma das situações citadas. Vale ponto, vírgula, exclamação, interrogação e só. Olha aí o texto sem pontuação:

"Se consultar a razão
digo que amo Soledade
não Lia cuja bondade
ser humano não teria
não aspiro à mão de Iria
que não tem pouca beldade"

Eu, com controle, na revista Cidades

Já há duas edições, eis-me revestido da incumbência de assinar uma pequena coluna na revista Cidades, editada por aqui e distribuída direcionadamente para todo o país. A coluna atende pelo nome de Controle Remoto, e se dedica a fazer breves comentários sobre mídia e comunicação. Quem quiser dar o ar da graça, pode fazê-lo de duas formas: comprando uma edição impressa nas principais bancas do Brasil, ou acessando o sítio http://www.revistacidades.com.br/
Claro que críticas e sugestões de pauta podem ser enviadas para este espaço.

Bom dia para começar

Este texto foi publicado originalmente na Folha de São Paulo do dia 1 de maio de 1991, data em que o jornalista e escritor mineiro Otto Lara Resende retomava sua coluna, agora na página 2, sob o tradicional titulinho Rio de Janeiro. Sua primeira coluna desta nova fase, portanto, foi publicada justo no dia de seu aniversário, e depois acabou tornando-se título de uma coletânea de suas crônicas - Bom dia para nascer. É um baita exemplo de desenvolvimento de um texto com cadência e ritmo moldados simples e tão somente pela pontuação. Dá gosto ver como é fácil, depois de ter sido tão difícil. Olha ele aí:

Eu não tinha a intenção de dizer logo assim de saída. Mas, já que a Folha me entregou, confesso que sou mesmo antigo. Modelo 1922. O do Centenário da Independência, da Semana de Arte Moderna, do Tenentismo, da fundação do Partido Comunista, da inauguração do radio etc. Suspeito que só eu e o rádio estamos funcionando neste mundo povoado de jovens. Mas juventude tem cura. Eu também já fui jovem. É só esperar.
Bem mais antiga é a origem do Dia do Trabalho. Começou em 1886, com a greve de Chicago. A polícia, claro, compareceu. Resultado: onze mortos – quatro operários e sete policiais. Primeiro e último escore a favor do trabalho. Três anos depois, em 1889, lembrando Chicago, os socialistas de Paris inventaram o Dia do Trabalho.
A data chegou depressa ao Brasil, mais subversiva do que festiva: em 1893. A recente Republica baixou o pau. Vem de longe o axioma: a questão social é uma questão de polícia. Só em 1938 surgiu aqui, oficial, o Dia do Trabalho. Também dia do pelego e do culto à personalidade do ditador. Em 1949, finalmente, a data virou lei. Lei e feriado.
Mês de Maria, mês das noivas, mês de flor-de-maio, maio sugere pureza e céu azul. “Só para meu amor é sempre maio” – cantou o primeiro poeta, Camões. Um dos últimos, Drummond, escreveu uma “Carta aos nascidos em maio”. Viu neles uma predestinação lírica, a que chamou o princípio de maio.
Em maio, e no dia primeiro, nasceram José de Alencar (1829) e Afonso Arinos (1868). Dois escritores, dois verdes. O indianista e o sertanista. Ambos enfática e ecologicamente brasileiros. Não será mera coincidência a data de certidão de nascimento do Brasil. A carta de Pero Vaz de Caminha é de primeiro de maio de 1500. Como o Brasil também é Touro, está difícil de pegá-lo à unha. Mais poeta que escrivão, Caminha foi o primeiro ufanista. Também pudera: em 1500 tudo ainda estava por ser destruído.
Só depois chegaram a inflação, a corrupção e a dívida externa. Há dez anos, em 1981, para celebrar o Dia do Trabalho, houve a explosão do Riocentro. Planejada em segredo, ao contrário da explosão de ontem em São Paulo, vem agora a furo a farsa do inquérito militar. Dá até vergonha de ser brasileiro. Maio, porém, está aí. Primeiro de maio: bom dia para começar. Ou recomeçar.

A volta do que não foi

Feliz 2009. Já temos quase dois meses passados, algo que dá mais a segurança de poder arriscar timidamente o desejo. Não me lembro de nenhum outro ano inaugurado que tenha causado tamanho constrangimento nas pessoas. Todos pareciam andar meio desconfiados de que boa coisa não viria, se é que viria. Estamos quase em março e talvez seja hora de ao menos dizer um "feliz 2009 e desculpe alguma coisa". Ou, em casos extremos, "feliz 2010". Dizem que é mais seguro.