terça-feira, 22 de março de 2011

Para ninguém dizer que eu também não disse

Minha coluna na http://www.revistacidades.com.br/. Ufa, finalmente um texto de própria lavra.

É DURA A VIDA
Está aí uma frase que vale para todos, variando apenas o grau de intensidade entre uns e outros. No caso específico dos jornalistas, digamos que a dureza deve ser um pouco maior, já que não deve ser nada fácil produzir tanto texto diariamente sem o risco de cometer deslizes, injustiças e verdades incompletas.

UM EXEMPLO?
Na tragédia do Japão, de números intermináveis, a primeira "onda" jornalística tendia para um arremedo de
elogio pelo pequeno número de mortos dos primeiros dias. As contas batiam em 300 vítimas, o que era
resultado do preparo de todos para eventos desta monta. Os dias foram passando e os números, natural e
infelizmente, foram sendo multiplicados por centenas. Não era hora, é certo, de calcular friamente, mas era
bastante possível prever que, diante daquele cenário de Dante, não cabia um otimismo tão grande.

OUTRO EXEMPLO
Outra questão jornalística acerca do Japão. Dois dias depois da tsunami, Montanaro, chargista da prestigiada página 2 da Folha de São Paulo, publicou um desenho que reproduzia uma imensa onda que arrastava a tudo e a todos, baseando-se em uma xilogravura famosa de um autor japonês. Foi o suficiente: repetiu-se, a partir daí, a pegadinha mais manjada do mundo da comunicação. Os leitores reagiram positiva e negativamente, gerou-se uma polêmica, ocupou-se espaço e tempo muito além do necessário para chegar a absolutamente nada. Certamente é a isso que a mídia chama de "espaço democrático de debates". Acho que não é bem assim.

JORNALISMO OU PUBLICIDADE?
Quem está mais certo é Leandro Marshall, autor do livro "O jornalismo na era da publicidade" (Summus, 2003), quando diz que editores passaram a se autocensurar e a produzir apenas reportagens que rendam audiência, tiragem e lucro. Acho que é bem assim.

EM TEMPO
"O jornalismo moderno tem uma coisa a seu favor. Ao nos oferecer a opinião dos deseducados, ele mantém-nos em dia com a ignorância da comunidade." Oscar Wilde, numa frase nada recente, mas muito atual.

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