domingo, 15 de novembro de 2009

Minha saia justa (e mais curta que a da Gleyce)

Difícil alguém não saber quem é a tal Gleyce a esta altura. Depois de todos os nossos moralistas de plantão terem saído de seus armários, de todos os editorialistas terem dedicado algumas pílulas de sua sabedoria, de todos os leitores de jornais e revistas terem vaticinado sobre liberdades, motivos e intenções, eis que a menina do vestido curto chegou ao topo: está prestes a ser a estrela de uma campanha nacional de lingeries, seus procuradores já estão em contato com alguma revista masculina para - quem sabe? - uma sessão de fotos, e hoje é uma das atrações do Fantástico, da televisão, para mostrar o seu guarda-roupas. Má notícia para as próximas, no entanto: tentem outra tática, pois a mídia não é de se emocionar muito com ideias repetitivas.

Será que é grave, Madonna?

Desde pequeno que me preocupo com uma minha anomalia. Coisa grave, pelo jeito. Nunca, em nenhuma fase da vida, me vi movido a grandes arroubos de idolatria, seja por que fosse. Agora, por estes dias, esteve aqui no Brasil de novo a chata da Madonna, seguindo o mesmo roteiro do chato do Sting, que por dá-cá-aquela-palha por aqui aporta. Nada de mais. O grave é o fato de eu nunca ter sentido a mínima vontade de estar com eles, correr atrás deles, estatelar em portas de hotel, fazer qualquer tipo de micagem pra chamar a atenção deles... O único mau súbito digno de registro de que me lembro, uma recaída, certamente, foi em uma visita do governador do Rio Leonel Brizola a Belo Horizonte, tempos idos já, em que aí sim eu desci até a sede da Câmara de Vereadores, então na rua Tamoios, bela tarde de domingo, e devo dizer que me emocionei de ver aquele sujeito com um lenço vermelho amarrado no pescoço, cortando a multidão, desfilando a sua dignidade histórica entre todos nós. Em outras palavras: vá pra casa, Madonna.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Eu falei, eu falei...

O que será melhor, ou menos pior: acompanhar esta sucessão interminável de escândalos, que inclusive já educaram os brasileiros e o mundo em geral à letargia de "deixar pra lá", já que aqui (qualquer lugar do mundo) "as coisas não tomam jeito mesmo", ou, por outro lado, ter de aguentar o discurso moralista de jornalistas, justiceiros, autoridades e outros bichos que pelo jeito arrumaram um meio de vida em que estabeleceram que sua única utilidade é a de denunciar, alarmar, insinuar e pronto, sem nenhum compromisso com a solução dos problemas... Escolha difícil, viu?

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Se vira nos 15 (e depois serão 15 anos de nada)

São milhares as mensagens que este blog recebe, na melhor das hipóteses afirmando sobre uma obsessão persecutória da mídia que ele - o blog - mal consegue disfarçar. Pode ser, mas digam então vocês se não é um ultraje à inteligência alheia o fato de ela - a mídia - ter assumido definitivamente o papel de interlocutora de todos aqueles a quem Andy Wharol certa vez disse que teriam seus quinze minutos de glória. Vá lá que para uns os 15 minutos viram 15 dias, 15 anos, 15 séculos; para outros 15 segundos, 15 milésimos se tanto, mas sempre ela - a mídia - estará lá, ao lado, testemunha ocular das muitas vezes curtíssimas histórias, para dar luzes a personalidades como Jesus Luz, big brothers, small brothers e quem mais for bafejado pela sorte imensa do estrelato mercurial. Deve ser chato dizer isso, mas a mídia não teria de ao menos demonstrar uma preocupação com sua função social, e estimular mais o valor da educação ou de outras bobagens mais duradouras do que simplesmente "se virar nos 15"?

Auauau, eu quero ser vira-lata!

Tinha esquecido de comentar para meus fieis seguidores a escolha do Rio para sede das Olimpíadas de 2016. Estava embriagado de felicidade cívica, de um nacionalismo extremado e extremista que inclusive me fez tentar mobilizar meus sete abnegados para a formação de um Partido Brazista, algo entre brazileiro e nazista, para combater os antipatriotas que até nisso conseguiram enxergar elementos desqualificadores na pessoa do presidente Lula. "Como pode", perguntaram cobertos da razão mais inocente, "Olimpíada em um país com tantas prioridades sociais, saúde, educação, alimentação etc. etc. etc.?" De fato. Por que não continuarmos no nosso eterno lema de esperar que todos estes problemas sejam resolvidos para aí, sim, pleitearmos alguma exibição mais vetusta como essa. Aquela velha máxima do "país do futuro", que esse blog vez ou outra traz à tona: vamos esperar o bolo crescer para dividir entre todos. Enquanto o bolo não cresce, o pessoal do "país do presente" vai se esbaldando, tratando primeiro de resolver as nossas questões sociais. Auauau, pessoal, auauau.

Ah, não, aí é demais, né Lina...

Depois de cansar de tanto pegar no pé do Zé Sarney, que naturalmente é detentor de grandes culpas por aí afora, mas sobre as quais ninguemzinho da silva estava sinceramente interessado, eis que agora a nossa dileta autodenominada representante do quarto poder volta a dar espaço de novo para uma tal agenda de uma tal Lina que, entre lapsos de lembranças e esquecimentos, finalmente reencontrou a prova do crime de ter estado ou não em uma reunião com a ministra Dilma, por acaso candidata do presidente a sucessora. Lá estava, graças aos céus, anotada a mão, num tal dia de um tal mês de um tal ano, a informação de que deveria estar com a tal ministra. Não é brincadeira: dois meses depois do bafafá, uma agenda, uma anotação a mão, e toda a mídia se abre trôfega a dar a devida repercussão ao achado. Alguém deve agradecer.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Quem é mesmo o burro?

Quatro meninos foram ao campo e, por 100 reais, compraram o burro de um velho camponês. O homem combinou entregar-lhes o animal no dia seguinte. Mas quando voltaram para levar o burro, o camponês lhes disse: - Sinto muito, mas tenho uma má notícia. O burro morreu.
- Então devolva o dinheiro!
- Não posso, já gastei todo.
- De qualquer forma, queremos o burro.
- Para quê?
- Fazer uma rifa
- Estão loucos? Rifar um burro morto?
Um mês depois, o camponês se encontra novamente com os quatro e lhes pergunta: - E então, o que aconteceu com o burro?
- Como dissemos, rifamos. Vendemos 500 números a 2 reais cada um e arrecadamos 1.000 reais.
- E ninguém se queixou?
- Só o ganhador. Aí lhe devolvemos os 2 reais e ficou tudo resolvido.
Os quatro meninos cresceram e fundaram um banco chamado Opportunity, um outro o Banco Marka, o outro uma igreja de nome Universal e o último virou Ministro do Supremo Tribunal Federal.

sábado, 22 de agosto de 2009

Não, não, não digo não.

Depois não digam que este blog não avisou. São incontáveis os indignados e indignadas com a renúncia à renúncia do Aloísio Mercadante, senador por São Paulo, mas ao mesmo tempo são muitos, mas muitos os que dizem não acreditar em mais nada na política. Exceto, vejam bem, exceto em quem? José Alencar, que vem a ser o vice-presidente, salvo pela sua luta terrível contra o câncer. Não há coração de brasileiro médio que não amoleça frente a um câncer. Vejam uma nota passada: "Escolha o seu câncer". Com ela, ao menos o bigodudo Mercadante tem a chance de anunciar que descobriu que também está com um cancerzinho incipiente. Ou então será o caso de esperar pelo seu próprio derretimento público, torcendo para que o Lula não lhe peça coisas mais íntimas para as quais ele também não conseguirá dizer não.
A propósito desta patacada do senador, deem uma lida no que um articulista da Folha publicou lá hoje, sob o título Mais irrevogável que um beijo no asfalto. Marco Chiaretti desmonta uma meio verdade que vem pairando sobre todos nós desde a vitória de Obama, creditada quase que totalmente ao bom uso estratégico das novas mídias. Leiam, reflitam, digam não:

O senador Aloizio Mercadante (PT-SP) é aquele homem público que parece sempre querer destacar em suas atitudes e falas uma aura de (quase) juventude e modernidade. É o tipo do político que prestou muita atenção no sucesso da campanha de Barack Obama na eleição norte-americana do ano passado, e no uso que os encarregados da comunicação obamista fizeram das chamadas redes sociais.(No caso de Obama, aliás, caberia prestar atenção nos números das pesquisas pré-eleitorais: é fato que os democratas deram um banho nos republicanos no uso da web, principalmente nos quesitos arrecadação e mobilização em campanha, mas também é fato que ele foi eleito por causa da crise, principalmente. A rede ajudou, mas uma rede sozinha faz pouco -a Presidência dos EUA usa as ferramentas de web 2.0 para divulgar as teses de governo, mas agora o sucesso não é tão notável, se é que existe.)Mercadante tem site, página no Facebook, no Twitter e no Orkut, álbum de fotos no Flickr e de vídeos no YouTube e deve ter mais páginas em outros portais e redes sociais que não conheço. Ele "está em rede". Há nisso uma busca constante pela aproximação com o público, o jovem em particular. Um político moderno e "progressista" falando aos jovens.O problema é que essas ferramentas "em rede" são de uma crueldade abissal, definitiva. Uma coisa é "falar", outra muito diferente é "escrever". E o Twitter é uma mídia onde se costuma escrever com a "leviandade", digamos, do discurso oral. É assim que funciona. "Verba volant", diziam os antigos, mas "scripta manent". No Twitter elas voam como passarinho e vão pousar em tudo quanto é galho. E lá ficam. Quantas vezes Mercadante disse que renunciaria ao cargo de líder do seu partido e depois desdisse o que havia dito? Pelo que leio, três vezes. E daí? Daí, nada, que na cena política essa questão de pedirem para esquecer (e esquecerem) é bastante comum. Só que agora ficou registrado na pedra: "Eu subo hoje à tribuna para apresentar minha renúncia da liderança do PT em caráter irrevogável", escreveu o senador. Irrevogável. E transmissível, como um vírus, de tela a tela.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Não chore, Isinbayeva...

De cortar o coração o sentimento do brasileiro médio. Outro dia desses, por causa do campeonato mundial de atletismo que vai acontecendo na Alemanha, eis que a recordista do salto com vara, a russinha Yelena Isinbayeva, derreteu dois bravos jornalistas. Juca Kfouri, o queridinho de dez entre dez de nossas figuras públicas e privadas, não resistiu e fez uma comparação da atleta com o seu amigo Pelé, ambos ícones esportivos e que, mesmo depois de derrotas, tiveram (como ela terá) forças para voltar a ganhar. Quando isso acontecer, a Rússia virá de joelhos nos agradecer. Do outro jornalista, repórter da TV Globo, não sei o nome, mas foi tão ou mais tocante, ao final da sua matéria, pedir a Yelena que não chorasse mais, pois "seus olhos são tão bonitos..." De pensar o que um e outro diriam à Daiane dos Santos, depois de um duplo twist carpado.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Lancem seus livros: últimas oportunidades

No país dividido entre prós e contras Lula, digamos que eu tendo mais pro lado dos prós, não obstante às vezes me espantar demais com certos discursos e algumas barbaridades do presidente, que são de arrepiar. Por outro lado, tão arrepiantes quanto suas metáforas são alguns jornalistas a se arvorar de autores de livros que têm um mesmo personagem em comum. Quem, adivinhem quem? O Lula. São o que se poderia chamar de gigolôs intelectuais do presidente. Ou, em outra palavra, oportunistas. Um deles, mais ágil, saiu à frente tratando o presidente de seu país de "anta". Deve ter faturado bem, pois em seguida veio um seu parceiro de páginas e denominou o país como sendo "dos petralhas", o que não deve significar coisa muito boa. Agora vem um terceiro e lança um tal "dicionário Lula", enfatizando na capa o nome do seu personagem predileto, para não haver dúvidas de que também quer a sua parte. Como se sabe, o mandato está acabando e, com ela, as oportunidades.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Com mil Batmans, Coringa!

Pode ser brincadeira, mas o jornalista Alberto Dines, no http://www.observatoriodaimprensa.com.br/, saiu-se com uma daquelas barbaridades que fazem pensar se não terá sido preciosismo do Criador nos conceder o dom do racionalismo. Diz Dines que as instituições republicanas vivem um de seus piores momentos (será?!) e que apenas uma organização social será capaz de salvar-nos desta situação dantesca. Adivinhem qual é esta tal representação social. Ela mesmo: a nossa imprensa. Vá lá que a ideia geral não está errada, mas apontar a nossa imprensa, no contexto em que a temos hoje, como guardiã da cidadania republicana, é o equivalente a colocar o Coringa pra tomar conta de Gotham City.

Tá estranhando o quê?

Ah, tá todo mundo achando engraçado que depois do discurso do Sarney a poeira baixou, a mídia deu um tempo, as coisas parece que vão se ajeitando? Arrepare não, seu moço, que a vida é assim mesmo. Se o país é do futuro, as coisas só podem melhorar no futuro, não sabe?

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Vocês nao valem nada, mas gostamos de vocês

Depois de ter visto o Renan Calheiros ser empossado ministro da justiça do governo Fhc, imaginei que nada mais podre pudesse acontecer. Descobri que pode, sempre pode e poderá neste lodaçal de cinismo de que fazemos parte. A foto recente de Lula abraçado ao Fernando Collor, a performance deste mesmo sujeito e do Renan que um dia foi seu aliado, depois o abandonou e agora (quando escrevo, ao menos) é de novo seu cupincha num debate com um gaúcho todo histriônico de que não lembro o nome, mais agora a foto do mesmo Collor com o Sarney que certo dia foi escorraçado por aquele do palácio onde exercia o cargo de presidente, tudo isso e muito do que ainda vai acontecer é exemplo eloquente de que o que nos falta, definitivamente, é uma válvula de descarga potente, próxima de um tsunami.

Dois (ou três?) axiomas aritméticos

Na verdade, quem tem um poblema tem dois.

Só há três tipos de pessoas: os que sabem contar e os que não sabem.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Muito prazer, meu nome é Junior.

O mexicano Brhadaranyakopanishadvivekachudamani Erreh Munoz batizou seu filho com o mesmo nome. E eu que pensava que não veria nome mais complexo que Og.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Meu país é o do futuro, e o seu?

Em resposta a meus milhares de leitores, faço claro que não defendo Sarney aqui nesta arena. Apenas critico a forma meio manjadinha da mídia de colocar um determinado personagem na roda e malhá-lo até onde for possível, sem muita preocupação com a solução do problema que originou toda a celeuma. O grande desafio seria deixar ver a todos os interesses que provocam estes surtos temporários de moralidade da grande imprensa. O que será, hem? De outra feita, é através dela mesmo - a imprensa - que me são derpertados os "instintos mais primitivos" (expressão célebre de um outro destes surtos passados) ao ouvir as degravações dos papos animados dos Sarneys - filho, neta, neta, assessor - numa clara demonstração de como os habitantes do "país do presente" negociam as benesses que a turma aqui do "país do futuro" vai ficar esperando para uma hora mais apropriada.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Sarney, você é Massa!

Para entender um pouquinho mais como se faz a produção de uma notícia no jornalismo de hoje, acompanhem as manchetes a respeito de dois personagens destes dias. Do Sarney, não se terá absolutamente nota alguma com algo que lhe seja digno. Do Massa, mesmo que a situação de sua saúde agrave, os jornalistas e as notícias deverão levar coisa de um mês para informarem como tal. Tá tudo tão bom, tudo tão perfeito que a gente chega a crer que todos merecíamos sofrer um acidente como aquele. Por outra, imaginem a surrealidade de descobrirem que o Sarney é que estava ao volante do carrinho e que o Massa, por sua vez, tivesse assumido o Senado na ausência do outro. Não dá pra arriscar como a mídia iria de repente inverter o discurso pra justificar que estava tudo certo no Senado e tudo errado na Ferrari. Seria cômico, não fosse trágico.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Ahhhhhhhhhhhhhhhhhh... tum!

O Gabriel pede pra perguntar qual o nome do peixe que pulou do vigésimo andar.

Por favor, onde fica o abismo?

Há quanto tempo... Como bom jornalista que sou, diria que estava esperando que o país melhorasse um pouco, mas como não melhora, aí resolvi ajudar a piorá-lo de vez. Eis que retorno por causa da pendenga que envolve o Sarney, o único presidente de quem peguei a mão, certa vez, em Uberaba, quando além de promissor redator publicitário ainda me aventurava deliciosamente nas atividades de repórter de um programa terceirizado de televisão, produzido pela agência em que trabalhava. É claro que o presidente, ao ler estas mal digitadas, vai se lembrar deste episódio do cumprimento, ainda mais agora, nesta má hora em que ele se vê enfiado, sem quem lhe dê guarida. Penso que sou suspeito, por amigo do homem, mas me causa urticária acompanhar esta sequência de desditas que o vem acompanhando. Ficam-me as perguntas: será que alguém acredita mesmo que tudo isso tem algum motivo republicano (como autoridades e jornalistas gostam de dizer)?; será que ninguém sabia disso tudo há mais tempo?; será que é só com o Zé Ribamar que isto se dá?; será que não há um certo cinismo nesta coisa toda (com a desculpa de pensar em cinismo numa República poupada por Deus deste sentimento tão mesquinho, onde qualquer sinal de cinismo deve ter passado longe)? será que agora o Brasil chegará ao ideal de pureza d´alma e todos seremos honestos? Será, será, será? Quando chego mais perto destas manifestações de moralismo exacerbado, vindas de onde vierem, sempre me lembro de uma charge do Veríssimo, muito tempo atrás, em que um sujeito à beira do abismo recebe o consolo de alguns personagens políticos (acho que até o Sarney estava nesta), prontos para demovê-lo de saltar. O sujeito olha pros supostos salvadores e define: "prefiro o abismo". Estes excessos de puritanismo me sugerem o mesmo.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Jornalista: com futuro ou sem.

Nestes tempos em que tudo faz crer que o Brasil finalmente chegou em 1968, e enfim o ano vai terminar, eis aqui um belo artigo escrito pelo Gilberto Dimesntein, publicado na Folha de domingo, 21 de junho, quando aliás comemorei meus 26 anos de diploma de graduação em jornalismo pela Universidade Católica de Minas Gerais. Ele trata da questão sem as paixões de praxe, com um equilíbrio incomum para os dias de hoje. Acho que deve ser punido por isso, mas vamos lá ao texto Jornalista sem diploma não tem futuro:

Professor de Harvard, o psicólogo Howard Gardner ganhou notoriedade mundial ao disseminar o conceito de inteligências múltiplas -em poucas palavras, a inteligência se manifesta das mais diferentes formas, inclusive na habilidade como se move o corpo num campo de futebol.Veja a renda mendal de jogadores que desprezaram a escola como Adriano (R$ 300 mil) ou Ronaldo (R$ 1,1 milhão) -agora, compare com salário de um professor doutor da USP, com dedicação integral (R$ 6,7 mil). Imagine quantos times de professores seriam necessários para ganhar o salário dos dois jogadores. O psicólogo afirma que uma das habilidades fundamentais no mercado de trabalho é a "mente sintetizadora". Por isso, apesar da decisão do Supremo Tribunal Federal, na semana passada, de permitir que até um jovem com ensino médio (ou menos) trabalhe numa Redação, o jornalista não terá futuro sem, no mínimo, um diploma. Provavelmente o menos importante desses diplomas seja o de jornalismo.
Mente sintetizadora é a habilidade de extrair o que é essencial do amontoado cada vez maior de informações despejada diariamente pelos mais diferentes meios. Para Gardner, o profissional do futuro deverá ter essa "mente" ou, pelo menos, ser assessorado por alguém que a tenha, do contrário tende a ficar paralisado entre as múltiplas alternativas. Para nenhuma atividade profissional, o desafio de lidar com o excesso de informação (e, portanto, exercer a capacidade de síntese) é tão pesado como para os jornalistas. Afinal, a imprensa é e será o grande filtro, seja no papel, no rádio, nas telas da televisão ou do computador. O jornal "The New York Times" inventou, no mês passado, um novo cargo: editora de "mídia social". Sua missão: navegar pelo labirinto das redes de internet como Orkut, Facebook, Twitter, além da floresta de blogs, e descobrir informações e tendências. Quem está acompanhando as manifestações do Irã, vê o papel dessas redes diante da proibição de divulgação de notícias.
Não se desenvolve a capacidade de síntese sem um longo treino de associação de dados, ideias e conceitos, o que exige uma vivência de ensino superior, com cargas de leitura e dissertações aprofundadas. Desenvolve-se, aí, a competência para identificar, relacionar e selecionar, a partir de problemas complexos. Daí que o aluno que passou a vida decorando para fazer provas tem até a chance de entrar numa boa faculdade, mas corre o risco de quebrar a cara no mercado de trabalho.
O fim da obrigatoriedade do diploma responde a essa demanda dos meios de comunicação: a abertura para profissionais ou acadêmicos das mais diversas áreas, especializados em determinados assuntos, capazes de acompanhar melhor a velocidade do conhecimento. É bem diferente de certos tempos em que se aceitavam, sem maiores problemas, repórteres talentosos para descobrir o futuro, mas incapazes de escrever; havia, na Redação, profissionais pagos para escrever a matéria, chamados "copidesque". O jornalista de qualidade será obrigado a se reciclar permanentemente, mantendo-se ligado a algum nível de vida acadêmica. É apenas consequência óbvia da era da aprendizagem permanente. Ou seja, um diploma é pouco. O presidente do STF, Gilmar Mendes, ao justificar o fim do diploma, comparou o jornalista ao cozinheiro. Também não acredito que um cozinheiro, no futuro, prospere sem diploma de ensino superior.
Ao contrário do que se pensa, o fim do diploma deve ajudar os cursos de jornalismo. Basta ler um texto universitário para ver a inviabilidade da linguagem acadêmica na mídia. Os profissionais que desejarem prosperar numa Redação terão de reciclar sua linguagem e lidar com as técnicas de comunicação; o acadêmico tem a reverência do processo; o comunicador, a do instante. Minha aposta é que serão criados cursos de curta duração, no estilo sequencial, com foco no mercado de trabalho. Com a decisão do STF, tirando os corporativistas, todos saíram ganhando a começar do leitor.

terça-feira, 16 de junho de 2009

O mar, misterioso mar

Depois de minha mesoconversão aos textos mesocientíficos, proporcionada pelo desenvolvimento da dissertação de mestrado, tive a feliz oportunidade de ler este outro que mando abaixo, do professor de teoria literária da Unesp de Campinas Alcir Pécora, publicado na Folha do dia 7 de junho passado. Ele, sim, um teórico como tantos colegas professores da graduação e do mestrado, a quem tenho tanto a agradecer pelas novas descobertas. Quanto ao texto que segue, leiam e vejam que análise é feita e tanto bem feita sobre a nossa dependência da linguagem como forma de nos manifestarmos e de percebermos manifestações, quanto mais em momentos de intensa dilaceração emocional. Chama-se Mar adentro.

Há um silêncio insistente pegado ao tropel das notícias que acompanham o voo 447 da Air France, desaparecido em meio ao Atlântico, na noite do último domingo. Talvez porque, a rigor, não possam ser inteiramente notícias, relatos de acontecimentos que se dão a conhecer. Pois há um vazio instalado no lugar da catástrofe. Um vazio residual, um silêncio ineludível entre as vozes e imagens. Vazio de causas do acidente, vazio de comunicação do avião sinistrado, vazio de imagens do desastre; vazio de comunicados terroristas; vazio, por ora, até de paranoia. A falta de terreno para as notícias salta ainda mais à vista nas galerias de fotos que os jornais tentam montar, com obrigatória criatividade, para dar uma dimensão mais humana, mais factual e discursiva para o desastre. O que mostram são fotografias de aviões semelhantes ao usado no voo 447 (que mais acentuam a consciência de não ser ele o verdadeiro do que a semelhança com ele), de radares modernos em navios, ou de militares com binóculos a perscrutar a presumível cena da queda, sempre com a mesma insuficiência de quem nos mostrasse os olhos em lugar da coisa supostamente avistada. No lugar do acidente, há a proliferação de imagens dos familiares a descer dos ônibus ou a cruzar escoltados os aeroportos do Rio e de Paris, com os olhos cobertos de dor e perplexidade. Mas a própria abundância dessas imagens vicárias marca sobretudo a ansiedade pelas notícias que não vêm, pela insistência da tragédia em não se consumar, de não apresentar justificativas para a sua ocorrência. Não há muitos objetos capazes de representar vicariamente a extensão cabal do desastre. Há o céu e há, sobretudo, o mar. Mas o mar confunde, indistingue, abstratiza, mais do que evidencia a tragédia. Assinalam um traçado no mar, mas ele não parece suficiente para expressar o trágico. Mencionam uma cadeira, objetos coloridos, uma parte metálica de alguns metros, mas metros não contam para o mar. Compreende-se o apego aos objetos partidos para valer como demonstração patética do desastre invisível. Não era por outro motivo que Aristóteles, na "Retórica", notava a eficácia de exibir camisas ou outros objetos com o sangue das vítimas para tornar presentes aos jurados a violência dos criminosos diante da ausência dos corpos mortos no tribunal. Mas não há sangue, não há culpados, não há traços humanos especialmente comoventes. De tudo o que se vê, evidencia-se tão somente o alto-mar. Sua magnificência está mais próxima da metáfora metafísica, seja da morte, seja da fortuna, que dos afetos trágicos. Mais do que piedade e compaixão, o mar exibe a sua própria grandeza. Por isso, no mar, em busca dos sinais dos mortos do voo 447, mais se encontram os sinais de nossa própria insuficiência. No mar, como no espaço abissal, é difícil sustentar um drama subjetivo individualizado: nele se enxerga melhor a nossa condição comum do que nossa vida particular. Como suplicar ao seu sem fundo que se apiede, como o vingado coração de Aquiles [na "Ilíada", de Homero] diante das súplicas do pai para restituir o corpo do filho amado? Que esperança de enternecê-lo e de prantear os corpos dos mortos, para que os façamos parte de nossas cerimônias e os aceitemos então como parte de nossas memórias e, portanto, como experiências que se pode viver, mesmo insuperadas? Desse modo, não há tragédia, pois não há relato de ação; não há catarse possível, pois não há erro, nem há vítimas que se dão a ver, assim como nos faltam os despojos sujos, tocantes, de vida interrompida. Tampouco há sublime pós-moderno, pois não há absolutamente o horror do inenarrável: há apenas a narração exígua do que se mostra imenso à vista. Os jornalistas, mais ou menos obrigados a recompor uma história dramática, senão uma grande tragédia - não por má intenção ou indiferença, mesmo ao contrário, para dar uma dimensão sensível à dor -, estão cada vez mais na pele do pintor inepto de Horácio, que apenas sabendo pintar árvores, não sabia como fazer para plantá-las na paisagem marítima. Mas há apenas a dor dos que a sentem, mais nada.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Titia Susan Boyle apresenta o titio Pott

Se você é um dos milhões de sobrinhos daquela bretã que nunca beijou ninguém e está presentemente internada em uma clínica de repouso, prepare-se. Sem saber, você já era sobrinho de um outro tio, chamado Paul Pott, que cumpriu o mesmo roteiro da titia Boyle, inclusive com os excessos emotivos dos jurados do programa de calouros. Não se sabe muito bem por que o titio não obteve a mesma repercussão da titia, mas sabe-se o quanto o dono do programa sabe fazer grana. O que também não é nenhum pecado, não é, tio?

Nada mais do que a verdade?

Com a autoridade de quem, mesmo tendo estudado para ser, acabou escapando da carreira de jornalista, vai aqui uma mísera recomendação técnica aos meus quase colegas de trabalho: rapazes, ninguém aguenta mais esta história de que a jornalismo só é possível associar verdades absolutas. Ainda que fosse, ninguém aguentaria a atitude arrogante de quem imagina que seja daquele jeito. E ai de quem se ponha a contestar ou cobrar explicações: estes serão eternamente os conspiradores contra a tal liberdade de imprensa. Parece pouco? Pois adicionem a tudo isto o tempero da queda de circulação de jornais, da migração das audiências dos meios eletrônicos para os digitais, da intensa possibilidade de interação e exposição de críticas e ressalvas dos leitores que agora, como nunca, têm o poder de não deixar mais pedra sobre pedra, mentira sobre mentira. Rapazes, a coisa tá preta.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Quem será que escreveu esta bobagem?

Uma escola preparatória de Goiânia, chamada Axioma Jurídico, espalhou outdoors pela cidade parafraseando aquele ditado manjadíssimo, o "diga-me com quem andas...". Nada mais criativo, como se vê, ainda mais partindo de uma escola. Pois lá estava: "diga-me com quem estuda e lhe direi quem será". Assim mesmo, abolindo a segunda pessoa, que ainda dá um certo tom de nobreza à bobagem, e mandando às favas qualquer conteúdo que pudesse querer transmitir. A poropósito, antes de dizer quem será quem, a escolinha poderia esclarecer quem será que foi o autor desta barbaridade.

Quem ajuda quem ajuda?

Um abraço, um beijo, um carinho de repente fazem falta? Ou não significam nada? Dias passados, esteve em voga uma discussão sobre a falta do mesmo empenho coletivo dos brasileiros quando da tragédia catarina de meses atrás para a tragédia nordestina de agora.
Não sei a que conclusão se chegou, mas será que será?
Desde o domingo de há pouco, quando do desaparecimento do avião francês, outra vez sobreveio a emoção de acompanhar o empenho das pessoas em socorrer os ficantes em seu drama inominável, seja com uma palavra, um amparo, um aperto de mão, um abraço de um desconhecido. Mas também houve quem achou de questionar por que não revelar o mesmo drama dos tantos "airbus" que matam tantos outros no trânsito ou nas noites das grandes cidades. Estão todos certos? Estão. Tanto quanto devem estar precisando de um abraço, um beijo, um carinho de repente.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Viliouvi: o avião e o cachorro

Acato sugestão minha mesmo, de criar uma série apaixonante em que transcrevo algo que tenha lido, visto ou ouvido alhures. Outro dia desses, quem ouvi foi o Cony dizendo que os aviões do futuro terão na cabine apenas um piloto e um cachorro. Um cachorro? Sim, pois a tecnologia será tão avançada que se o piloto puser a mão em alguma coisa, o cachorro ataca. Na hora.

Segundo Barrichello II, o segundo

Em primeiro lugar, com um título destes, nem é preciso texto. Em segundo lugar, Barrichello. (Para o caso de meus milhões de leitores insistirem, deixo em aberto a postagem de piadas sobre o Rubinho, exceto aquela em que se pergunta pra mãe dele de que filhos ela mais gosta e ela responde: primeiro o mais velho, em segundo, o Rubinho. Ou aquela outra que diz que será o autor mais citado em trabalhos científicos. Mais ou menos assim: segundo Barrichello, patati, patatá...) Postem, pois.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Me chamam Mestre

Vai longe o 5 de dezembro, quando este pobre escrevinhador dizia de suas angústias frente à qualificaçao do mestrado que se aproximava. Propositalmente, deixei de lado as de agora, quando se aproximou a definitiva defesa. Nao que angústias nao houvesse, mas elas se encarregaram por si só de me incomodar tanto, mas tanto, que preferi nao decliná-las neste espaço. Tudo isso pra dizer que, desde o dia 22 de maio deste ano da graça de 2009, nao sem passar por uma intensa emoçao provocada pela presença do meu e das minhas, posso ser tratado pelo título de Mestre. Este mesmo, aquele que, segundo Rosa, Joao Guimaraes, nao é o que bem ensina, mas o que de repente aprende.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Escolha o seu câncer

Entre o câncer da ministra Dilma e o câncer do vice-presidente José Alencar, qual dos dois lhe parece mais digno de atenção? Fica a impressão de que o do vice emociona mais, seja pela sua imensa demonstração de força de vontade, pela sua denodada abnegação, pelo permanente sorriso que não combina nada com o drama em que está enfiado. Quanto à ministra, pretensa candidata a presidente, a história é bem outra: está usando a doença para promover sua campanha à vista, demonstra fraqueza logo frente a uma quimiozinha qualquer... Inevitável lembrar de uma frase do Nelson Rodrigues, atribuída a Otto Lara Resende, mineiro como são, aliás, a ministra, o vice e este escriba, que diz que os mineiros (por extensão, os brasileiros) só são solidários no câncer. Pelo jeito, agora nem isso.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Quanto temos ainda a aprender na eschola

O que será que leva uma entidade de ensino - sabe-se lá se é isso - a cometer o ato de pespegar-lhe o nome de eschola. Com todas as letras - e-s-c-o-l-a - e mais um h ali no meio, que vem a lhe servir de diferencial, e que ao olhar de um leigo não tem sentido algum. Opa, não tem aparentemente, pois que há lá do lado do nome a foto de um sujeito que por ser muito rico tem um programa de televisão (ou seria o contrário?), e cujo sobrenome ou nome artístico começa justamente com h. Huck!, ele mesmo. Será que será que será? E a ghente aqui pensando que a educação no país não tinha solução...

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Vira-latas do mundo, uni-vos!

Vez ou outra, ao ler a Folha, que leio mais, me sobressaltam alguns textos que definem um pouco do que penso e sinto falta de fazer. Sábado passado, no caderno de economia, lá estava uma análise do Clóvis Rossi, muito apropriada e muito equilibrada, repercutindo à distância o comentário do camarada Obama sobre o companheiro Lula, aquela história do "ele é o cara!". Não tenho muito contra o presidente, a quem as tais "forças ocultas" do país tentam pegar a ferro e fogo, mas me peguei rindo de imaginar como estariam se remoendo os "doutores" ex-presidentes que o Rossi cita. Algo como "ïmaginem se ele tivesse me conhecido antes"... Segue aí o texto, felicíssimo ao ir buscar no nosso velho complexo de vira-latas, segundo Nelson Rodrigues, a razão de nossa melancolia permanente. Logo a gente, que nunca se sentiu capaz de fazer frente a quem quer que seja, logo a gente fazendo eco pelo mundo com um semi-analfabeto? Ah, não! Quando essa gente vai perceber que nós nascemos para ser pequenos?
Leiam e discordem.

Se estivesse vivo, Nélson Rodrigues babaria de ódio ao ver que o complexo de vira-lata que ele atribuía aos brasileiros saiu em bloco aos salões depois que o presidente Barack Obama saudou Luiz Inácio Lula da Silva como "my man" e o apontou como o presidente mais popular do mundo. O tratamento dado ao episódio por uma parte da mídia passa a impressão de que Lula só se tornou popular porque Obama disse que Lula é popular - e os microfones da BBC pegaram. Mais fantástica é a ideia de que Obama ungiu, com o gesto, o novo líder global, na figura de Lula. O próprio Lula, na entrevista coletiva que concedeu horas depois do episódio, pôs as coisas no seu devido e correto contexto: 1) Foi uma "brincadeira", brincadeira facilitada pelo fato de que Lula "trata as pessoas muito bem" e vê os presidentes como "companheiros" tanto ou mais do que como presidentes. É fato. Lula é cordial com todos, de direita e de esquerda, ricos e pobres, a ponto de ter conseguido a proeza de ser chamado de "meu amigo" por George Walker Bush e de "my man" por seu antípoda Barack Obama. 2) Essa história de liderança é "uma bobagem teórica", sempre segundo Lula, para quem "todos [os países] querem ser líderes e ninguém passa o bastão para ninguém". Bingo. Contexto explicado diretamente pelo personagem central da história, convém deixar claro que Lula é, sim, uma personalidade mundial, uma espécie de pop star, antes e acima de tudo por sua história de vida. De alguma forma, é até melhor que a de Obama, cuja eleição causou tanta excitação no planeta. Afinal, Obama tem diploma universitário - e de universidade de grife -, exigência não escrita para ser presidente em qualquer lugar do mundo. Lula não tem, mas seu governo não passa vergonha diante dos doutores que o antecederam (aliás, escrevi algo parecido muito antes de Lula se eleger ou de ter chances reais de ganhar). O prestígio de Lula se deve também a ter se convertido ao credo hegemônico no planeta. Só é aceito nos salões do homem branco e de olhos azuis porque assina textos como o do G20 que diz: "A única base segura para uma globalização sustentável e crescente prosperidade para todos é uma economia aberta baseada em princípios de mercado, regulação efetiva e instituições globais fortes". O venezuelano Hugo Chávez não assinaria algo parecido. Não é convidado para os salões que Lula frequenta, mas Lula é convidado para os salões que Chávez frequenta porque não tem preconceitos ideológicos. Nem cria caso. Popularidade e aceitação não se confundem, no entanto, com liderança. Para ficar apenas no âmbito do G20, o próprio Lula disse que, em seu discurso aos "companheiros" presidentes, apenas pedira que os países ricos resolvessem a sua crise. Não ofereceu, portanto, nenhuma luz, não abriu caminhos que os outros devessem seguir, como fazem os líderes. Mesmo o Barack Obama que o tratou como "my man", no exercício de humildade que foi a sua entrevista coletiva após a cúpula do G20, não citou o Brasil entre as potências que estão surgindo ou se consolidando. Mas citou a Europa, a China e a Índia. Nem é culpa de Lula, no caso. É culpa do país que ele representa, ainda pobre, além de profundamente desigual. O Brasil é o quinto mais pobre do G20, à frente apenas de China, Índia, Indonésia e África do Sul. Não quer dizer, no entanto, que o papel do Brasil seja irrelevante ou secundário. Ao contrário, foi ativíssimo, ainda mais pela coincidência de ter sido o presidente de turno do G20 até o ano passado. Por isso, os grupos de trabalho criados após a cúpula de Washington para preparar a de Londres foram comandados pela "troika": os co-presidentes eram um brasileiro, um sul-coreano, que terá a presidência no ano que vem, e um britânico, que preside o conglomerado em 2009. Posições brasileirasDe modo geral, aliás, as posições brasileiras acabaram contempladas no texto final: mais regulação/supervisão, enfrentamento dos paraísos fiscais, mais recursos para o FMI -todas essas eram posições brasileiras. Mas foram também empurradas por grandes potências (França e Alemanha, em especial, no caso da regulação e dos paraísos fiscais). Nem entre os Brics (Brasil, Rússia, Índia e China, as potências mundiais até 2050, segundo uma empresa de investimentos) o Brasil consegue impor posições. Na véspera da reunião de ministros da Fazenda e presidentes de bancos centrais do G20, há três semanas, o ministro Guido Mantega defendeu, em encontro dos Brics, que o grupo deveria apoiar a estatização dos bancos. A tese foi derrotada e não apareceu nem no documento dos Brics nem nos textos finais dos ministros nem dos chefes de governo. Tudo somado, fica claro que o Brasil não é mais vira-lata e, portanto, não depende de um afago de Obama ou de quem quer que seja para se sentir importante, mas também não é um rottweiler -nem tem a vocação de ferocidade indispensável para comandar a matilha.

segunda-feira, 30 de março de 2009

A culpa é sua!

É claro que fica parecendo panfletagem, coisa que passa daqui a pouco, mas vá tentar entender o contraste entre duas situações tão díspares como as mostradas no Fantástico de ontem, na TV Globo. De um lado, a tramóia terrível dos proprietários da Daslu, um dos paraísos da altíssima sociedade de consumo que, por ser altíssima, não tem porque se preocupar em responder a estas pequenas questões que afligem os mortais, como impostos e sonegação; do outro lado, encrustado em Cavalcante, norte de Goiás, algo que tecnicamente comete o erro fatal de existir, estão crianças várias que frequentam a escola instalada embaixo de uma tapera, com lousa aos pedaços, apenas com o intuito de comer 60 gramas de uma papa de arroz, leite e açúcar, a título de merenda. Em comum às duas histórias, o fato de ambas ocorrerem no Brasil, este país em que estamos agora, e por isso sermos cúmplices, c0-participantes, responsáveis, culpados.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Brascínico, meu Brascínico brascineiro!

Retratos do que a gente é: o delegado passa de investigador a investigado; o suspeito desaparece da mídia misteriosamente, apesar de tantas evidências; a estudantada e os partidos de esquerda, na falta de coisa melhor, elegem um policial da PF como herói da resistência. Só falta agora o Cláudio Lembo a discursar contra as elites.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Yes, weekend: como dizia o Obama

Hoje, segunda, antes weekend com este writer enfurnado full time no texto final de sua dissertação. A mesma que me encarreguei de entregar ao orientador, com a grandissíssima hope de estar próximo do end. Do happy end que eu e ele merecemos, I think, depois de tantas batalhas. Quem sabe os próximos weekends não serão de menores tensões, maiores delicadezas, alguma sobrevivência a mais. Como dizia o brother Obama: we can!

sexta-feira, 13 de março de 2009

Corra e olhe o céu!

Quando parece que corremos céleres e irremovíveis para a barbárie, me ocorreu que uma boa homenagem à facilmente suposta expressão de desespero a que foi submetida ontem a menina Penélope, 5 ou 6 anos de uma vida interrompida pela loucura de quem lhe tinha a pomposa tarefa de responsável, seria a lembrança destes pequenos versos do Cartola, sambista mangueirense de tantos sucessos e uma certa dose de melancolia. Homenagem a Penélope e alerta a nós todos, que agora, além de termos de nos manter atentos a todas as ciladas que nos podem afetar por todos os lados, ainda deveremos instar para o que nos pode vir de cima, além do excremento dos pombos. Para registro, dizem os versos de Cartola: "corra e olhe o céu, que o sol vem trazer bom dia". Bom dia, Penélope.

sábado, 28 de fevereiro de 2009

Ditinha brandinha

Como disse um amigo outra hora, e me esqueci de dizer ali embaixo, a sorte é que estes nossos jornalistas, cientistas políticos, historiadores (até historiadores...) não foram ainda convocados para analisar o holocausto. Iam acabar descobrindo que foi só outra brandurazinha (tem dura, mas é branda).

Nossa dita é branda, e a sua?

Brincando de ser sério, cá está o país de novo fazendo troça de sua História. Outro dia desses, num editorial, a Folha, em mais uma das milionésimas reprimendas da mídia pátria a Chavéz e suas loucuras venezuelanas (como se por aqui não as tivéssemos também), saiu-se com um neologismo pra lá de esquisito: ditabranda. Tal estrupício significa que um regime de exceção que tenha provocado menos vítimas em relação a outro não pode ser considerado como uma ditadura, mas sim algo mais brando. Parece loucura, e é mesmo. Pior, se ainda é possível imaginar, foi perceber que até mesmo um absurdo deste quilate encontra seus defensores, deixando de lado o simples fato de que está-se jogando a nossa História no lixo, em nome de uma veleidade insignificante de associar pensamento tal e qual à direita ou à esquerda. Depois, são os mesmos que vão dizer que o Brasil não tem memória, que bonitos são os outros que preservam seu passado e tal e cousa e lousa. Caipirice pura.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

E vamos aos pontos

Já que falamos em pontos na postagem do Otto, vai aqui um desafio pouco convidativo, mas que vai denotar o interesse de uns e outros sobre esta terrível arte da redação. Seguinte: trata-se de um poema que fala de três belas irmãs; dependendo da pontuação escolhida, o poeta declara seu amor por Soledade, por Lia ou por Iria, ou ainda confessa estar indeciso entre as três.
Fácil, fácil: pontue o texto original de 4 formas diferentes, em cada uma delas demonstrando uma das situações citadas. Vale ponto, vírgula, exclamação, interrogação e só. Olha aí o texto sem pontuação:

"Se consultar a razão
digo que amo Soledade
não Lia cuja bondade
ser humano não teria
não aspiro à mão de Iria
que não tem pouca beldade"

Eu, com controle, na revista Cidades

Já há duas edições, eis-me revestido da incumbência de assinar uma pequena coluna na revista Cidades, editada por aqui e distribuída direcionadamente para todo o país. A coluna atende pelo nome de Controle Remoto, e se dedica a fazer breves comentários sobre mídia e comunicação. Quem quiser dar o ar da graça, pode fazê-lo de duas formas: comprando uma edição impressa nas principais bancas do Brasil, ou acessando o sítio http://www.revistacidades.com.br/
Claro que críticas e sugestões de pauta podem ser enviadas para este espaço.

Bom dia para começar

Este texto foi publicado originalmente na Folha de São Paulo do dia 1 de maio de 1991, data em que o jornalista e escritor mineiro Otto Lara Resende retomava sua coluna, agora na página 2, sob o tradicional titulinho Rio de Janeiro. Sua primeira coluna desta nova fase, portanto, foi publicada justo no dia de seu aniversário, e depois acabou tornando-se título de uma coletânea de suas crônicas - Bom dia para nascer. É um baita exemplo de desenvolvimento de um texto com cadência e ritmo moldados simples e tão somente pela pontuação. Dá gosto ver como é fácil, depois de ter sido tão difícil. Olha ele aí:

Eu não tinha a intenção de dizer logo assim de saída. Mas, já que a Folha me entregou, confesso que sou mesmo antigo. Modelo 1922. O do Centenário da Independência, da Semana de Arte Moderna, do Tenentismo, da fundação do Partido Comunista, da inauguração do radio etc. Suspeito que só eu e o rádio estamos funcionando neste mundo povoado de jovens. Mas juventude tem cura. Eu também já fui jovem. É só esperar.
Bem mais antiga é a origem do Dia do Trabalho. Começou em 1886, com a greve de Chicago. A polícia, claro, compareceu. Resultado: onze mortos – quatro operários e sete policiais. Primeiro e último escore a favor do trabalho. Três anos depois, em 1889, lembrando Chicago, os socialistas de Paris inventaram o Dia do Trabalho.
A data chegou depressa ao Brasil, mais subversiva do que festiva: em 1893. A recente Republica baixou o pau. Vem de longe o axioma: a questão social é uma questão de polícia. Só em 1938 surgiu aqui, oficial, o Dia do Trabalho. Também dia do pelego e do culto à personalidade do ditador. Em 1949, finalmente, a data virou lei. Lei e feriado.
Mês de Maria, mês das noivas, mês de flor-de-maio, maio sugere pureza e céu azul. “Só para meu amor é sempre maio” – cantou o primeiro poeta, Camões. Um dos últimos, Drummond, escreveu uma “Carta aos nascidos em maio”. Viu neles uma predestinação lírica, a que chamou o princípio de maio.
Em maio, e no dia primeiro, nasceram José de Alencar (1829) e Afonso Arinos (1868). Dois escritores, dois verdes. O indianista e o sertanista. Ambos enfática e ecologicamente brasileiros. Não será mera coincidência a data de certidão de nascimento do Brasil. A carta de Pero Vaz de Caminha é de primeiro de maio de 1500. Como o Brasil também é Touro, está difícil de pegá-lo à unha. Mais poeta que escrivão, Caminha foi o primeiro ufanista. Também pudera: em 1500 tudo ainda estava por ser destruído.
Só depois chegaram a inflação, a corrupção e a dívida externa. Há dez anos, em 1981, para celebrar o Dia do Trabalho, houve a explosão do Riocentro. Planejada em segredo, ao contrário da explosão de ontem em São Paulo, vem agora a furo a farsa do inquérito militar. Dá até vergonha de ser brasileiro. Maio, porém, está aí. Primeiro de maio: bom dia para começar. Ou recomeçar.

A volta do que não foi

Feliz 2009. Já temos quase dois meses passados, algo que dá mais a segurança de poder arriscar timidamente o desejo. Não me lembro de nenhum outro ano inaugurado que tenha causado tamanho constrangimento nas pessoas. Todos pareciam andar meio desconfiados de que boa coisa não viria, se é que viria. Estamos quase em março e talvez seja hora de ao menos dizer um "feliz 2009 e desculpe alguma coisa". Ou, em casos extremos, "feliz 2010". Dizem que é mais seguro.