sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

O negócio é sexo etc. e sexo.

Se faltava superar alguma barreira, o atual Big Brother da televisão cumpriu a tarefa. Vivemos numa sociedade exclusivamente sexual. Tudo é sexo, todos só pensam em sexo, os rumos da humanidade dependem do sexo, sem sexo só há o caos, o sexo é azul, tudo que o mundo precisa é de sexo, que paz que nada, o negócio é sexo e amor, I love sexo etc. e sexo. E eu aqui perdendo tempo, escrevendo besteiras, enquanto em todos os lugares do planeta todos devem estar praticando sexo.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Onde anda o Gilmar?

Há mais de dez dias um governador preso, ontem um prefeito quase cassado... No que será que andam querendo transformar este país, seu Gilmar?

Acho que não vou, viu?

Claro que só deve estar acontecendo comigo. Por isso alguém poderia me explicar como fazer para torcer para a seleção brasileira nesta copa que vem por aí? Não bastasse um técnico que é um primor de simpatia, mais os animadores de torcida que são os locutores, comentaristas e apolinhos de todo lado, eis que outro dia vi pela Tv um filme de uma cerveja em que aparece um avante chamado Luiz Fabiano, que os animadores já transformaram em Fabuloso, com a maior cara de mala, fazendo aquele gesto de dobrar os dedos sobre a palma da mão, chamando: "vem, vem...". Quem quiser ir, que vá. Eu passo.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Mataram a Dilma!

Meu Deus do céu, o que a Veja está tramando desta vez? A Dilma na capa, com uma frase em que parece que ela está regenerada para o mercado, humilde aos rumos impostos por alguma força oculta qualquer... Meu Deus, será sinal de que vão matá-la?

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Que Reinaldo é este?

Depois de ter recomendado um texto do Sarney, que escreve muito bem, arrisco uma outra indicação, esta mais estranha: um texto do Reinaldo Azevedo, colunista e golpista que tem um blog e escreve na Veja. Escreve brilhantemente, diga-se de passagem. Não fosse atender a patrões tão mesquinhos e radicais, seria ainda melhor. No final de 2008, preocupadíssimo com os rumos de Darfur, ele escreveu um artigo inquietante, em que discutia a fé, a existência de Deus e as iniquidades humanas. Vale a pena ler. O título, apropriadamente, era Que Deus é este?

Boa parte das nações e dos homens celebra, nesta semana, o nascimento do Cristo, e uma vez mais nos perguntamos, e o faremos eternidade afora: qual é o lugar de Deus num mundo de iniqüidades? Até quando há de permitir tamanha luta entre o Bem e o Mal? Até Ele fechou os olhos diante das vítimas do nazismo em Auschwitz, dos soviéticos que pereceram no Gulag, da fome dizimando milhões depois da revolução chinesa? E hoje, "Senhor Deus dos Desgraçados" (como O chamou o poeta Castro Alves)? Darfur, a África Subsaariana, o Oriente Médio... Então não vê o triunfo do horror, da morte e da fúria? Por que um Deus inerme, se é mesmo Deus, diante das "espectrais procissões de braços estendidos", como escreveu Carlos Drummond de Andrade? Que Deus é este, olímpico também diante dos indivíduos? Olhemos a tristeza dos becos escuros e sujos do mundo, onde um homem acaba de fechar os olhos pela última vez, levando estampada na retina a imagem de seu sonho – pequenino e, ainda assim, frustrado...

Até quando haveremos de honrá-Lo com nossa dor, com nossas chagas, com nosso sofrimento? Até quando pessoas miseráveis, anônimas, rejeitadas até pela morte, murcharão aos poucos na sua insignificância, fazendo o inventário de suas pequenas solidões, colecionando tudo o que não têm – e o que é pior: nem se revoltam? Se Ele realmente nos criou, por que nos fez essa coisa tão lastimável como espécie e como espécimes? Se ao menos tirasse de nosso coração os anseios, os desejos, para que aprendêssemos a ser pedra, a ser árvore, a ser bicho entre bichos... Mas nem isso. Somos uns macacos pelados, plenos de fúrias e delicadezas (e estas nos doem mais do que aquelas), a vagar com a cruz nos ombros e a memória em carne viva. Se a nossa alma é mesmo imortal, por que lamentamos tanto a morte, como observou o latino Lucrécio (séc. I a.C.)? Se há um Deus, por que Ele não nos dá tudo aquilo que um mundo sem Deus nos sonega?

Evito, leitor, tratar aqui do mistério da fé, que poderia, sim, responder a algumas perplexidades. O que me interessa neste texto é a mensagem do Cristo como uma ética entre pessoas, povos e até religiões. Não pretendo, com isso, solapar a dimensão mística do Salvador, mas dar relevo a sua dimensão humana. O cristianismo é o inequívoco fundador do humanismo moderno porque é o criador do homem universal, de quem nada se exigia de prévio para reivindicar a condição de filho de Deus e irmão dos demais homens. É o fundamento religioso do que, no mundo laico, é o princípio da democracia contemporânea. Não por acaso, a chamada "civilização ocidental" é entendida, nos seus valores essenciais, como "democrática" e "cristã". Isso tudo é história, não gosto ou crença.

Falo das iniqüidades porque é com elas que se costuma contrastar a eventual existência de uma ordem divina. Segundo essa perspectiva, se o Mal subsiste, então não pode haver um Deus, que só seria compatível com o Bem perpétuo. Ocorre que isso tiraria dos nossos ombros o peso das escolhas, a responsabilidade do discernimento, a necessidade de uma ética. Nesse caso, o homem só seria viável se isolado no Paraíso, imerso numa natureza necessariamente benfazeja e generosa. O cristianismo – assim como as demais religiões (e também a ciência) – existe é no mundo das imperfeições, no mundo dos homens. Contestar a existência de Deus segundo esses termos corresponde a acenar para uma felicidade perpétua só possível num tempo mítico. E as religiões são histórias encarnadas, humanas.

Em Auschwitz, no Gulag ou em Darfur, vê-se, sem dúvida, a dimensão trágica da liberdade: a escolha do Mal. E isso quer dizer, sim, a renúncia a Deus. Mas também se assiste à dramática renúncia ao homem. Esperavam talvez que se dissesse aqui que o Mal Absoluto decorre da deposição da Cruz em favor de alguma outra crença ou convicção. A piedade cristã certamente se ausentou de todos esses palcos da barbárie. Mas, com ela, entrou em falência a Razão, humana e salvadora.

Fé e Razão são categorias opostas, mas nasceram ao mesmo tempo e de um mesmo esforço: entender o mundo, estabelecendo uma hierarquia de valores que possa ser por todos interiorizada. As cenas das mulheres de Darfur fugindo com suas crianças, empurradas pela barbárie, remetem, é inevitável, à fuga de Maria e do Menino Jesus para o Egito, retratada por Caravaggio (1571-1610) na imagem que ilustra este texto – o carpinteiro José segura a partitura para o anjo. As representações dessa passagem, pouco importam pintor ou escola, nunca são tristes (esta vem até com música), ainda que se conheça o desfecho da história. É o cuidado materno, símbolo praticamente universal do amor de salvação, sobrepondo-se à violência irracional que o persegue.

Nazismo, comunismo, tribalismos contemporâneos tornados ideologias... São movimentos, cada um praticando o horror a seu próprio modo, que destruíram e que destroem, sem dúvida, a autoridade divina. Mas nenhum deles triunfou sem a destruição, também, da autoridade humana, subvertendo os valores da Razão (afinal, acreditamos que ela busca o Bem) e, para os cristãos, a santidade da vida. Todas as irrupções revolucionárias destruíram os valores que as animaram, como Saturno engolindo os próprios filhos. O progresso está com os que conservam o mundo, reformando-o.

Pedem-me que prove que um mundo com Deus é melhor do que um mundo sem Deus? Se nos pedissem, observou Chesterton (1874-1936), pensador católico inglês, para provar que a civilização é melhor do que a selvageria, olharíamos ao redor um tanto desesperados e conseguiríamos, no máximo, ser estupidamente parciais e reducionistas: "Ah, na civilização, há livros, estantes, computador..." Querem ver? "Prove, articulista, que o estado de direito, que segue os ritos processuais, é mais justo do que os tribunais populares." E haveria uma grande chance de a civilização do estado de direito parecer mais ineficiente, mais fraca, do que a barbárie do tribunal popular. Há casos em que é mais fácil exibir cabeças do que provas. A convicção plena, às vezes, é um tanto desamparada.

Este artigo não trata do mistério da fé, mas da força da esperança, que é o cerne da mensagem cristã, como queria o apóstolo Paulo: "É na esperança que somos salvos". O que ganha quem se esforça para roubá-la do homem, fale em nome da Razão, da Natureza ou de algum outro Ente maiúsculo qualquer? E trato da esperança nos dois sentidos possíveis da palavra: o que tenta despertar os homens para a fraternidade universal, com todas as suas implicações morais, e o que acena para a vida eterna. O ladrão de esperanças não leva nada que lhe seja útil e ainda nos torna mais pobres de anseios.

O cristianismo já foi acusado de morbidamente triste, avesso à felicidade e ao prazer de viver, e também de ópio das massas, cobrindo a realidade com o véu de uma fantasia conformista, que as impedia de ver a verdade. Ao pregar o perdão, dizem, é filosofia da tibieza; ao reafirmar a autoridade divina, acusam, é autoritário. Pouco afeito à subversão da autoridade humana, apontam seu servilismo; ao acenar com o reino de Deus, sua ambição desmedida. Em meio a tantos opostos, subsiste como uma promessa, mas também como disciplina vivida, que não foge à luta.

Precisamos do Cristo não porque os homens se esquecem de ter fé, mas porque, com freqüência, eles abandonam a Razão e cedem ao horror. Sem essa certeza, Darfur – a guerra do forte contra o indefeso, da criança contra o fuzil, do bruto contra a mulher –, uma tragédia que o mundo ignora, seria ainda mais insuportável.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Entre um pulo e outro, leia Sarney... Ele mesmo

De novo na Folha: o título é Outros carnavais

Eu, que estou em pleno vigor da juventude -e todos os dias os jornais, ao citarem o meu nome, revelam aos leitores esta minha fraqueza-, fico todo irritado quando ouço essa história de "bom era no meu tempo", "ah! que saudades do meu tempo" e outros lamentos saudosistas. Bom mesmo é o tempo de hoje.

O tempo bom do meu tempo era o tempo daquele tempo, que não conhecia o tempo futuro. Eliot, o grande e sempre louvado poeta, formulou bem esse tema, dizendo mais ou menos que o futuro é o presente, o presente é passado e presente, sendo passado e futuro tudo presente. Difícil de entender, mas bonito de ler, no texto original ou na belíssima tradução de Ivan Junqueira.
Carnaval então é momento dessas baboseiras, os velhos reclamando das escolas de samba, feéricas, deslumbrantes, despejando alegria pela avenida, comparando-as com as batalhas de confete e o entrudo, que era a imbecil brincadeira de um sujar o outro. Outros reclamam do cheiro de urina dos foliões apertados pelas latas de cerveja, contrapondo ao cheiro bom do lança perfume, na minha terra chamado de Rodó -a marca mais popular e representativa dos antigos carnavais.
Leio que um baiano do Campo Grande, em Salvador, onde a folia é a mais densa daquelas bandas, disse que já estava esperando o cheiro do "descarrego carnavalesco" e que passaria esses dias limpando as calçadas e tapando o nariz. Bobagem e hipocrisia, porque ele é um privilegiado, pois não precisa sair de casa para ouvir a bela Ivete Sangalo e os trios elétricos, herança de Dodô e Osmar.
Ora aqueles tempos dos carnavais antigos! Não se via esse desfile puro e esplendoroso das mulatas, loiras, morenas sem vestidos, seios à mostra, além das partes que têm vida própria, pululam e que são vistas quando passam popozudas. Tudo belo, a frente e o atrás. Bendito Carnaval do presente, quando ninguém tem de temer nada nesse jogo de Adão e Eva, porque o nosso Ministério da Saúde já se encarregou de distribuir camisinhas, com direito a lubrificantes e antissépticos. Ora bolas para o passado, com aquelas fantasias cafonas, cheias de babados, chapéus de crepom colorido e colares havaianos que, suados, manchavam as roupas.
E o mais difícil: homens para um lado e mulheres para outro, só olhares e desejos. Quando muito um aperto de mão acochado e um sarrafo leve de corpo com corpo.
Que diferença louca entre blocos antigos, de canções nostálgicas, e o gingado delirante do "dono desta cidade sou eu", do axé, em que Daniela Mercury nos leva ao delírio pecaminoso.
Bom Carnaval! E o do Maranhão não fica atrás com o Bicho Terra e as lindas negras que vieram do Daomé há 400 anos e guardam a sensual alegria africana. Haja gosto para brincar.

Entre um pulo e outro, leia Cony

Hoje, também na Folha: chama-se Evoé Momo!

De uns tempos para cá, as festas coletivas estão ficando cada vez mais misturadas. Natal, Carnaval, Sexta-Feira Santa. Pouco a pouco, se reduzem a feriados que servem para encompridar o final de semana, todos se sentem obrigados a aproveitar de seu modo ou de modo nenhum. Aí pelo interior, no mais fundo do país e do homem, devem boiar algumas ilhas isoladas de tradição, mas nos grandes centros (Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, Salvador, Porto Alegre, Belo Horizonte) a festa se resume mesmo na festa e no feriado, às vezes nem lembramos o que estamos comemorando.
Certo, existem alguns temperos específicos, como os desfiles de blocos e escolas no Carnaval, a ceia de Natal e o hábito de trocar presentes, a canjica ao leite e a bacalhoada das Sextas-Feiras Santas -e tremo ao reduzir a data sagrada dos meus amigos cristãos a um bródio regado a azeite e azeitonas pretas. Mas reagir quem há de? Assim é, por culpa de todos nós, autoridade e povo, que as festas são mais coletivas do que festas em si mesmas.
Mal acabamos o Natal, entramos no Carnaval. Há agitação na rua, todos procuram se programar, numa época de computação quem não está programado está por fora ou, pior, está morto, fora da seiva vital que nos mantém à tona. Atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu.
Jornais, revistas, TVs, todos ensinam dicas, sugerem festas e alternativas -o lazer massificado, consumível, torna-se quase uma obrigação, uma chatice, um dever que precisamos cumprir.
Para falar a verdade, nem sequer tenho saudades dos Carnavais de antanho. Com irrelevantes diferenças disso ou daquilo, eram a mesma coisa. Bem verdade que consegui juntar no meu saco alguns Carnavais memoráveis, solitários, gostosos, em que a folia foi exercida lucidamente pela carne pagã e destacada.
Nada de ajuntamento, pois não creio que mais de três pessoas juntas consigam algum momento importante -a não ser no futebol e nas guerras.
Não sei se já contei, mas aí vai outra vez. Ali pelos anos 70, numa sexta-feira anterior ao Carnaval, peguei meu carro e minha namorada para esticar os quatro dias que tinha pela frente. Rodei todos os motéis da Barra, não havia vaga, tudo cheio. A noite estava vazia, não havia ninguém nas ruas, metade da população estava em cima da outra metade.
Parecia que o Rio, o Brasil inteiro haviam marcado encontro nos hotéis de alta rotatividade. Vaga -um garçom conhecido, que se chamava Evaristo, me garantiu- só pela madrugada. Graças ao Evaristo consegui um apartamento com banheira jacuzzi, aluguei-o para os três dias e quatro noites, até a Quarta-Feira de Cinzas. O motel ficava à beira da praia, enfim, um programa decente, honesto e gostoso. No dia seguinte, sábado de Carnaval, ao acordar para ir à praia, vi meu carro sozinho no imenso pátio de estacionamento. Não dei importância. Era o único hóspede, os outros foram todos para o que chamam de "folia".
Imaginei que, à noite, o pátio estaria novamente cheio, com novos (ou os mesmos) fregueses. Passou o sábado, passaram o domingo, a segunda e a terça que dizem gorda -e meu carro continuou como ocupante solitário do enorme pátio. Hóspede único do hotel, a princípio estranhei. Mas como? Não era Carnaval? Onde estavam todos eles?
Ao contrário do poema de Manuel Bandeira, não estavam amando profundamente. Estavam por aí, fazendo alguma coisa qualquer, mas não profundamente. Bem, aproveitei aqueles dias brancos e solitários, amei muito e bastante, creio que a namorada aprovou o Carnaval laborioso e integral que praticamos.
Na quarta-feira, quando voltava para a cidade a fim de assumir a faina humana, ia saindo do estacionamento e esbarro com um velho fusca que vinha chegando. Dentro dele, o casal não parecia deslumbrado: apenas cansado, como se a festa tivesse esgotado todas as energias que eu havia gasto nos três dias anteriores.
Nem tomei conhecimento dos desfiles, da escola de samba vencedora, das cinzas que estavam sendo distribuídas nas igrejas. O pátio do motel voltou a ficar cheio de carros cujos donos precisavam dormir profundamente. Evoé Momo!

Entre um pulo e outro, leia Ruy Castro

Hoje, na Folha: o texto chama-se A escrita à mão

Não sei em que dia caiu, mas houve um momento na Pré-História em que o homem, com um só gesto, avançou duas casas na escala evolutiva. Foi quando ele se pôs de pé e começou a garatujar com carvão na parede da caverna. Isso o separou dos outros animais, que continuaram ágrafos e de quatro.
De certa forma, esse gesto se repetiria nos bilhões de crianças que, desde então, fariam o mesmo na parede da sala, só que usando um lápis. Pois matéria de Talita Bedinelli numa Folha de janeiro me alertou para algo em que eu não tinha pensado: até quando nossas crianças, com suas mochilas equipadas com notebooks, celulares e toda espécie de badulaques eletrônicos, continuarão escrevendo... à mão?
A ideia de que tal prática seja abolida do cardápio de funções humanas é de assustar -mas, pela primeira vez, palpável. De fato, com um notebook sempre disponível, para que perder tempo e espaço com cadernos, esferográficas, lápis, borrachas e, pior ainda, com dicionários, gramáticas e livros de texto?
Ou talvez não haja motivo para preocupação. Eu próprio, em tenra idade, comecei a escrever a máquina quase ao mesmo tempo em que à mão. Isso não me livrou de usar caneta-tinteiro, mata-borrão, apontador de lápis, tabuada, régua e outros apetrechos, então obrigatórios na vida escolar. Mas só porque eu não podia levar a máquina de escrever para a sala de aula.
A história da escrita tem passagens lindas. Uma delas, narrada a mim por uma amiga, conta como, por volta de 1855, os barqueiros que singravam o Sena de madrugada, nos arredores de Rouen, se guiavam por uma luz de vela que, noite após noite, durante seis anos, saía da janela de uma casinha à margem do rio. Eles não podiam saber, mas era Flaubert escrevendo -à mão, é claro- "Madame Bovary".

Dá o pé, Lôro!

Acaba de ser publicada a informação de que o papagaio Louro José, filho da apresentadora Ana Maria Braga, acidentou-se no Rio de Janeiro, que seu estado não é grave e tudo mais. Até aí, tudo bem. O esquisito é que todos os portais ilustraram a notícia com a foto do próprio papagaio e não do seu intérprete, que acho que nem nome tem. Não seria um caso para uma extensa discussão psico e hermeneuticamente filosófica? Se o danado tivesse morrido, será que o seu santinho também teria a efígie do Louro José? Nascido quando? Falecido como? Seu eu fosse esse lôro, dava no pé.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Amanhã tudo será como antes

O cinismo no Brasil, definitivamente, não tem limites. Acaba de se entregar o governador Arruda, do DF, aquele mesmo que chorou certa vez na bancada do Senado, aquele mesmo que a Veja ressuscitou politicamente como exemplo de administração pública. Agora o mesmo se entrega, mas não sem antes escrever aos amigos como vítima de outros da mesma estirpe. Amanhã ou depois, quando sair de sua suíte prisional, tudo voltará ao normal. Foi só um susto.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Mais uma observação absolutamente dispensável

Depois da descoberta descrita no primeiro post abaixo, uma outra: vocês não podem imaginar a vantagem em deixar de ler comentários de praticamente a totalidade de nossos analistas políticos. Parece mentira, mas tente seguir o que vai a seguir: pesquise algum texto de algum comentarista ou blogueiro político publicado há coisa de uns seis ou mais meses, esteja o autor à direita ou à esquerda do que quer que seja. De duas, uma: ou os textos parecem ser os mesmos de hoje, ou as previsões catastrofistas ou nirvânicas não terão acontecido. Conclusão: leiam colunistas de um Ruy Castro, de um Cony, de um Washington Novaes. Longe de escrever amenidades, eles escrevem sobre a vida real e, quando prevêm, só prevêm o que já aconteceu. Vale a pena.

Eu só sei que eu não quero nem saber

Num destes jogos deste time que chamam de seleção brasileira, notei que um amigo deixara a televisão ligada sem o áudio e descobri, magicamente, o prazer de não ter de ouvir a coleção de bobagens e babagens proferidas pelos galvões e similares da ocasião. Incrível, fantástico, extraordinário perceber o quanto nós somos reféns da inércia. Uma coisa tão simples de se fazer, um prazer tão enorme de sentir. Tentem, experimentem.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Enquanto isso, na União Soviética...

Uma quinta de primeira. Logo de manhãzinha, depois de uma noite de calor senegalês em que não se dorme por nada neste mundo, sou acordado por uma bombástica notícia de rádio: um secretário de estado havia tido uma filha denunciada por uso indevido de influência política. O quê? Algo está errado. Agora só faltava a denúncia ter sido feita pela afiliada da maior rede de comunicação do país. E foi mesmo, o que demonstra que definitivamente algo está errado. Mais um pouco e surge o secretário nas ondas da rádio de maior audiência, na qual ele tem ou teve participação acionária, e prega com autoridade e autoritarismo sobre a necessidade de investigação e punição para a filha, em caso de culpa. Esclarece que trata-se de uma filha de um relacionamento anterior a seu casamento atual, mas - fazer o quê? É filha, né! De volta pra casa, zapeando no rádio do carro em busca de alguma musiquinha, eis que a rádio estatal anuncia que entrará em cadeia com as outras emissoras estatais para a transmissão de uma entrevista do secretário e pai. A ponto de ir às lágrimas, sol um mal disfarçado desejo de matar uma meia dúzia de adversários políticos e - quem sabe - algumas filhas, o secretário poderia acompanhar, em rede, sua valentia escorrendo pelo ralo.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

"É o Gabriel, seu filho, pai".

Certo que não tem significado nenhum pra ninguém além dos personagens citados, mas ontem, subindo pra Clarim, sacando do celular pra pedir pra menina que iria me acompanhar a um cliente que estivesse pronta à porta, eis que aperto a tecla da última ligação e - qual não foi a surpresa - a última ligação não havia sido feita para a agência e sim para casa. Atende de lá o dono da voz do título e, do alto dos seus sete anos, estranhando que eu não estivesse entendendo que havia ligado para o lugar errado, me sai com aquela resposta, exatamente. Não dá pra não rir da graça explicativa do menino mais bonito do mundo.

Paz na terra, por Cony, na Folha de 22/1

Encontro com antigo colega do seminário, hoje padre, na porta da igreja. Eu esperava uma filha, e ele esperava a hora de fazer sua prédica sobre o mês de maio. Havia uma chuva miúda, o vento saía do túnel novo e varria as duas avenidas que vomitam automóveis vindos da cidade, em busca de Copacabana.
Lá dentro, na igreja, há calor e beatas. Alguém reza em voz alta, mas as buzinas dos carros soam mais fortes.
-Milagre?
-Não. Espero alguém.
Ele faz cara compreensiva, embora compreendendo outra coisa.
-Como vai essa ovelha tresmalhada?
-Já não sou tresmalhado, nem sequer sou ovelha.
-Isso depende de você. Olha, mais dia menos dia, você não aguenta mais.
Mudo de assunto:
-E o papa?
Há um brilho comovido nos olhos do padre.
-Você gosta dele?
A pergunta parece sem sentido, era claro, não tinha nada contra o papa.
-Pois olha, é um homem admirável.
E começa a falar. Do papa, descemos aos cardeais, depois aos bispos. Deu-me notícias que o nosso dom Jorge Marcos de Oliveira continuava o mesmo "Turcão" que conhecemos no seminário. Isso significa muita coisa de ternura e admiração.
"Turcão" era o camarada mais inteligente do seminário e do mundo. Bispo em Santo André, já falecido, tornou-se notável pelo seu zelo e pela sua competência pastoral. Vítima do noticiário dos jornais, dom Jorge muitas vezes foi apresentado como "moderno" demais, amigo demais dos trabalhadores. Esse "moderno" é justamente o "Turcão" do seminário.
Mas a sineta toca lá dentro e o padre entra.
-Vou falar sobre o mês de Maria. Na saída, voltamos a conversar.
-Posso ouvir?
-Não. Não aconselho. Vá esperar seu alguém.
O padre entra e eu vou atrás. Sento no banco mais escuro e triste. Beatas por todos os lados, lá no canto um homem idoso e curvado tosse com estrondo.
Acendem-se as luzes e o padre entra.
-Meus amigos, ia falar hoje sobre o mês de Maria. Mas encontrei lá fora um amigo de infância e mocidade, companheiro de ideal e de antigas lutas, hoje do outro lado da trincheira. Falar sobre o mês de maio seria ocioso para ele. Para vocês, outros padres falarão melhor do que eu sobre esse assunto. Pois falarei sobre um tema que tanto pode servir a vocês quanto a ele e a mim. A paz.
Não a paz dos guerreiros, a paz dos políticos, dos financistas. A paz paz, pacificamente instalada no coração e na angústia do homem. Lembrou a encíclica "Paz na Terra", não era qualquer paz que interessava para o homem.
E lembrou dois trechos do Evangelho. Quando Cristo diz: "Eu não vim trazer a paz, mas a guerra"; e quando, já ao fim de seus dias na Terra, faz sua grande oferta: "Eu vos dou a minha Paz".
Lá no fundo sinto o bruto orgulho de ter um amigo falando bonito e bem. Revivo algumas cenas de nossa infância, nossos estudos, o dia em que, juntos, começamos a estudar filosofia, quando apostamos tirar dez em ontologia. Toda a ternura antiga e não sabida vem à tona.
A prédica acaba, as beatas se ajoelham para a missa e eu saio trôpego, sem saber se devo ficar ou se devo partir imediatamente, infinitamente, em busca dos caminhos que escolhi sem ter preferido.
Lá fora, o vento que o Atlântico sopra vem por dentro dos túneis que engolem massas compactas de carros, as luzes vermelhas piscando histericamente na noite que desce sobre a cidade atrofiada de ossos e músculos cansados.
Na igreja, começa a missa, o mesmo rito antigo que Joyce colocou no pórtico de seu "Ulisses" e eu coloquei no pórtico de minha adolescência frustrada: "Subirei ao Altar de Deus". Que Deus? Que Altar? Há trincheiras ou, feitas as contas, não estamos todos do mesmo lado atirando contra o nada?
A chuva para. O mundo está lavado e um hálito fresco sobe do chão. Perto do carro, minha filha me espera. Meu carro será em breve um ponto histérico a mais, a ser devorado pela goela insaciável dos túneis e da vida. Olho para trás, o padre inicia o ofertório e se oferta. Paz.
Minha filha estende a mão e me chama para o chão, que nos traga sem ofertas, com lágrimas que começam a brotar em silêncio, secas no fundo e na treva.

A Madonna leu meu blog

Poucos textos abaixo, reclamava este escrevinhador da recorrente presença da Madonna entre nós. A cantora, não a outra. Certamente indicado por Jesus - o dela, não o outro - eis que ela - a cantora - leu o post e então o que fez? Marcou nova vinda ao Brasil, no Carnaval, com o fim único de me provocar. Pois digo logo que não vou cair nesta, e não irei a qualquer sambódromo em que ela estiver. É só.

Merchandising de sete cabeças

“Quem se aventura a tentar entender um pouco o que significa o tal de merchandising acaba muitas vezes deixando de entender outros termos que pensava que sabia”. Foi esta a definição nem um pouco definitiva que certa vez ouviu-se em uma sala de aula. Mas, no fim das contas, o bicho não é tão feio quanto parece.

Se formos verificar em algum compêndio de marketing, lá vai estar que merchandising vem do inglês (até aqui, nada de novo) e quer dizer comercialização, promoção, entre outras coisas do gênero. Isto segundo o bom e velho dicionário Oxford Escolar, onde conta-se que estamos falando de uma técnica de marketing no ponto-de-venda que consiste em proporcionar uma melhor visualização do produto ou da marca. Motivo? Para instigar o consumidor a se motivar por aquela marca ou produto na hora da compra.

“Sim, entendi”, alguém poderá dizer, pensando que entendeu. Mas, se a questão do merchandising está ligada a alguma ação realizada no ponto-de-venda, que história é aquela de realizar merchandising em novelas, bigbrothers etc., como todos já devem ter ouvido falar ou observado nos letreiros finais de tais programas. Pelo que se sabe, a tela da televisão não é exatamente o ponto-de-venda de uma marca ou produto.

Esta é uma outra história, e tem a ver com o fato de os veículos de comunicação, eminentemente os canais de TV, terem convencionado chamar tais ações, de inserção daqueles tais produtos ou marcas dentro de uma atração especifica, seja novela ou qualquer outra faixa, exatamente de merchandising. Apenas isso.

Os americanos, que têm certeza de que sabem tudo, têm outro nome para isso: eles chamam esta inserção de tie-in, o que tem muito mais sentido. Não há uma tradução literal da expressão, mas é o equivalente a envolver o produto ou marca dentro do programa tal. Simples, não?

Mas voltemos ao merchandising do ponto-de-venda. Neste, algumas multimarcas do mundo da moda vêm procurando dar uma reestruturada no visual. Mudou a temporada, estas marcas ganham novas decorações, cada grife com seus temas. Cada uma destacando-se por sua originalidade e pioneirismo. Aí estão grifes como Alexander McQueen, Salvatore Ferragamo e Yves Saint Laurent com seus novos visuais seguindo as tendências do verão.

Uma sugestão: por que não usar a natureza no visual de sua loja?! O verde continua em alta nesta onda infinda de sustentabilidade, e algumas marcas apostam em diferentes interpretações da natureza, como vasos de plantas, às vezes em maior destaque do que o próprio vestuário ou em tapetes verdes dando um aspecto de grama e reforçado com imagens de árvores ao fundo. Fica a dica.

Com um olhar mais extravagante, sofás coloridos preenchem os espaços com manequins de madeira e rostos caricaturados, tudo para fazer contraste com os espaços já citados. Há também a proposta clean, com destaque para a arquitetura e os móveis, além de elementos convencionais e luminárias arrojadas. A marca Comme des Garçons investiu num ambiente variado para várias coleções, manequins personalizados e estruturas de metal dispostos para mostrar as próximas tendências.

Como se pode ver, o apelo do merchandising não é deve ser considerado apenas como uma ferramenta de marketing lá do Hemisfério Norte. A tendência das lojas, seja de que área for, é de provocar interação com o cliente, com muita criatividade, uso e abuso de ideias.

E do resto de 2010, o que será?

Vá lá… É verdade que 2010 já vai caminhando para seus onze meses finais, mas sempre é tempo de fazer umas previsõezinhas despretensiosas.

Sejamos genéricos. 2010 será um ano de surpresas, como aliás todos os anos, tudo bem imprevisível. Quem sabe uma nova “gripe”, talvez uma nova “crise”, por que não uma “crise da gripe” ou uma “gripe da crise”. Se o ano começou com algumas catástrofes de monta, seja em Angra ou no Haiti, nada pode nos dar certeza de que outras não estarão por vir. Mau sinal, mas pura verdade.

O que não é incerto é que 2010 será ano de Copa do Mundo e de eleições presidenciais. Portanto, ano de política e futebol, o que muitas vezes em situações passadas já foi utilizado de forma mesclada, provocando confusões propositadas, em que não se sabia muito bem se a questão era votar ou torcer por um time ou um candidato.

A propósito da política, pela primeira vez depois de vinte anos teremos uma eleição sem um candidato de nome Lula. Parece pouco, mas é uma dado mais relevante do que também não termos um candidato chamado Eneás, que só não vai participar por já ter partido desta para melhor. Outro dado é que, fato também inédito, haverá uma mulher candidata com chances de vitória. Não parece pouco, e não é mesmo.

Do lado dos eleitores, eis que eles também terão mudanças bastante importantes neste ano. Exemplo? Mais ferramentas para medir a força dos candidatos, como os sites, as redes sociais e tudo que derivar e que estiver relacionado com as tais novas mídias, parcialmente liberadas pela legislação brasileira para que os chamados marqueteiros desenvolvam estratégias extremamente especificas para uma determinada ação, para um determinado público. O que se pode prever é algo parecido com a última campanha para a presidência dos Estados Unidos, com a eleição de Barack Obama mobilizando simpatizantes da internet com iniciativas de divulgação e de arrecadação de fundos para a campanha.

Alguns dos nossos partidos já estão correndo atrás dessas tendências e começam a montar suas fórmulas. Probabilíssimos candidatos à presidência, como José Serra e Marina Silva, já tentam seduzir internautas. Para não ficar atrás, o PT de Dilma Rousseff bola e elabora soluções de uma melhor comunicação na grande rede.

Outro tema quente (quentíssimo, aliás) é o do aquecimento global. Aquele mesmo em que se perderam grandes oportunidades na reunião do COP15 em Copenhagen. Mesmo que não tenha sido fechado acordo algum entre as nações, a Conferência ao menos proporcionou o aparecimento de uma opinião pública mais bem posicionada sobre o tema. Espera-se que as conseqüências para 2010 sejam de maior cobrança da população mundial.

E no esporte? 2010 promete para os brazucas… No vôlei, como de hábito, continuaremos fortes; no handball, promessas; no atletismo, o desafio é superar os péssimos resultados do ano passado; na natação, o contrário, a questão é manter os resultados incríveis de 2009; na Fórmula 1, quem sabe o novo Senna?, sobrinho do outro; por fim, no futebol, Copa do Mundo na África do Sul, onde poderíamos ao menos torcer para que nosso pessoal farreie menos um tiquinho, ajeite menos as meias e, de preferência, chute no canto onde o goleiro adversário não estiver. Será uma boa preparação para a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016 que vêm logo ali.

São eventos que vão movimentar profissionais das mais diversas áreas com equipes de infraestrutura, jornalistas, publicidade e marketing que vão provocar certamente uma época ‘áurea’ para o marketing esportivo. Mas estas são previsões para daqui a mais alguns anos.